sábado, 28 de junho de 2008

Rev. Carlos Alberto

Alguns homens não podem ser descritos completamente por palavras, e são exatamente aqueles que fazem das palavras, mas do que a usual capacidade humana de se comunicar, a divina manifestação da própria providência. Acredito que o Rev. Carlos Alberto Chaves, pároco da Paróquia Anglicana Reformada da Santíssima Trindade em Copacabana, esteja entre esses homens. Um grande orador: indício de uma acentuada preocupação em transmitir adequadamente a palavra de Deus - com conhecimento, inteligência e que acima de tudo, atenda as necessidades de seus ouvintes, que a Palavra de fato, seja uma forma de alimento, para o espírito e para a alma, que a Palavra de fato seja de Deus, e não a simples reverberação de um método eficiente de convencimento. Diante de um grande orador com tal preocupação, uma entrevista se torna uma forma de inspiração, não para ele, mas para nós. Portanto caríssimo, nos inspire...

Blog da Paróquia Anglicana da Santíssima Trindade: http://anglicanasst-rj.blogspot.com/



Vigília da Noite - Descreva resumidamente como foi o seu chamado e motivação à carreira pastoral, seu início e as frequentes dificuldades envolvidas nesse ministério.


Rev. Carlos - Quando adolescente fiquei muito marcado por minha experiência religiosa e, após a confirmação (profissão de fé), procurei, de todas as formas, resitir ao desejo de tornar-me Ministro do Santo Evangelho. Como, porém, parecia-me impossível (pois, assim pensar e procurar agir nesta direção era como estar fora do sentido da vida), resolvi aquiescer ao chamado e, com 17 anos ingressei no Seminário (completando 18 anos no primeiro ano do Curso de Bacharel em Teologia). Hoje, com 49 anos, não poderia me entender como pessoa e cristão, senão, fazendo o que faço.


Vigília da Noite - Um exemplo em sua vida.

Albert Schweitzer.


Vigília da Noite - Como o senhor vê hoje a situação da cristandade no mundo? A igreja tem de fato exercido a sua missão ou deixado a desejar?


Rev. Carlos - Há vários cristianismos no mundo e, para falar de cada um gastaria páginas de livros e livros para analisá-los. Queria, entretanto, fazer uma distinção: a instituição religiosa (igrejas) e as comunidades e/ou grupos de ação e fé sob inspiração religiosa cristã.
Em geral as instituições são por demais coercitivas, castradoras, conservadoras (retrógradas), envoltas em disputas de poder, dentro e fora da instituição.


Qualquer parco sociólogo dirá que são características fundamentais de instituições aumentar seu poder, preservar sua coerção (poder) interna, ampliar suas fontes de recursos, aumentar sua abrangência social e coibir dissonãncias e discordâncias internas evitando dissidências. Sem isso ela não sobreviveria. Assim, instituições necessitam de pessoas que mantenham sua burocacria, exerçam a coerção e ampliem suas fontes de renda e número de adeptos. Seria impossível a uma instituição, senão, somente, sob pena de desaparecer, não ser: repressora, preservadora do status quo e interligadas às outras instituições que a cercam em relações de interesse e poder. Por isso, p.ex., a instituição religiosa perseguiu, prendeu, julgou, maltratou e matou a Jesus Cristo.


Uma comunidade ou grupo, diferentemente, reune-se à volta de uma utopia, de um sonho, ou de ideais e buscas comuns: aqui encontramos mais a Igreja de Jesus Cristo do que, em si (note, em si), nas instituições religiosa que recebem o nome de "Igreja".





Vigília da Noite - Fale um pouco sobre seu envolvimento com a teologia da libertação.


Rev. Carlos - Quando estudei para o Bacharelado em Teologia, aqui na América Latina e, em especial no Brasil (1978), a teologia que movimentava o pensamento teológico era a TdL. Formei-me estudando seus autores e aprendi a ler a Bíblia pelos instrumentos das diferentes teologias da libertação. Ela conseguia usar o método barthiano de estudo das Escrituras (o jornal em uma mão e a Bíblia - e seus instrumento de análise - em outra) e a leitura crítica do socialismo e do marxismo à realidade. Por isso, entendi (no passado) e ainda permaneço entendendo, a TdL ainda é a única e melhor forma de se fazer teologia para a realidade na qual nos inserimos.


Vigília da Noite - Uma fonte de inspiração.
Rev. Carlos - São Francisco de Assis.


Vigília da Noite - Uma experiência inesquecível.

Rev. Carlos - Como não sei se a pergunta volta-se ao negativo ou ao positivo, vou responder falando sobre um e outro.

Negativa - marcou-me profundamente ter de sepultar um oficial de Igreja, novo, com filhas adolescentes e dois pequenos filhos, que, no domingo havia-me pedido uma partitura coral que falava sobre a fé e a coragem que ela infunde e ter o mesmo usado isso para colocar sua cabeça dentro do forno, ligar o gás e suicidar-se. Esta foi uma experiência marcante, doída e difícil, mas, também, um desafio à confissão da fé e do múnus pastoral, pois tive de encontrar e buscar dentro de mim algo que não conhecia e julgava não ter para realizar o sepultamento, acompanhar a família posteriormente e conseguir consolar aquelas vidas ante ao trágico e bizarro. Até hoje suas filhas são minhas queridas amigas e sempre gratas.

Positiva - reencontrar, depois de longos anos de separação, aquela que hoje é a minha querida esposa.

Vigília da Noite - Uma fonte de indignação.

Rev. Carlos - O fosso desnecessário e injustificável entre os ricos e pobres no Brasil.

Vigília da Noite - Frase.:

Rev. Carlos -Há tantas...

Bíblica - Jesus chorou.

Escritor - F. Nietzsche:"Ai de mim, esta é a minha dor: introduziram atrás de todas as coisas, mentindo, prêmio e castigo.""Se dizem que são bons e mansos, para ser fariseu, só falta o poder."
"Sou inimigo de tudo o que já, cansado, não pode nem morrer nem viver."

"Aquilo que não se pode mais amar, deve-se passar além"

Dostoievski: "Creio que não existe nada de mais belo, de mais profundo, de mais simpático, de mais viril e de mais perfeito do que o Cristo; e eu digo a mim mesmo, com um amor cioso, que não existe e não pode existir. Mais do que isto: se alguém me provar que o Cristo está fora da verdade e que esta não se acha n'Ele, prefiro ficar com o Cristo a ficar com a verdade."

Vigília da Noite - Os melhores livros:
Rubem Alves - O Enigma da Religião
Rudolf Bultamnn - Teologia do Novo testamento
Leonardo Boff - Jesus Cristo Libertador

Vigília da Noite - Os melhores filmes:
Um Sonho de Liberdade (Diretor: Frank Darabont; com Tim Robbins e Morgan Freeman)
Ilha das Flores (documentário dirigido por Jorge Furtado)
Nós Que Aqui Estamos Por Vós Esperamos (documentário dirigido por Marcelo Marsagão)

Vigília da Noite - As melhores músicas:
À Flor da Pele, e, O Que Será (Chico Buarque)
Somewehe Over The Rainbow (cantado por Judy Garland, do filme O Mágico de Óz)
Bastidores (Chico Buarque)

Vigília da Noite - O futuro:
Rev. Carlos - Esperança e fé.

Vigília da Noite - Seu legado:
Rev. Carlos - Nunca se esqueçam dos pobres.

Vigília da Noite - Um conselho para os que estão começando agora:
Rev. Carlos - Não se vendam, não se deixem seduzir ou comprar. Melhor ter ideais bons, e seus, do que "segurança" e poder.

domingo, 15 de junho de 2008

Mulheres, mulheres e ulheres

Certas mulheres, mais do que seres humanos, são violentas forças da natureza. A mesma chuva que dá vida à terra, numa enchurrada arrasta cidades.

O mesmo Salomão que escreveu:


O que acha uma mulher acha uma cousa boa e alcançou a benevolência do Senhor. (Prov. 18.22)


Também escreveu:

E eu achei uma cousa mais amarga do que a morte, a mulher cujo coração são redes e laços, e cujas mãos são ataduras: quem for bom diante de Deus escapará dela, mas o pecador virá a ser preso por ela. (Ecl. 7.26)

Talves eu esteja enlaçado. Ontem tive uma epifania: Afrodite desceu do Olimpo e veio até mim, ela me beijou e descobri que o amor é doce. Contudo, não nasci pagão, deusas não deveriam me impressionar, mas essa serpente me devorou, por ela eu fui envenenado. Malditos os homens que vivem como cachorros: o cachorro ao brincar com a serpente acabará sendo morto por ela. Estou apaixonado? Isso eu não sei dizer, tenho uma pedra no lugar do coração. Vivo desconfiado, não tenho beleza que impressiona.

Dia dos namorados? verdadeiro amor não se comemora, se lastima, exatamente por sermos devoradores de corpos mais do que de almas. Amar uma mulher por causa da beleza de seu corpo é o mesmo que imunda necrofilia.

Deixo minha mensagem aos namorados citando Nietzsche e seu profeta Zaratustra:

Tema o homem a mulher quando a mulher odeia, porque no fundo o homem é mal, mas a mulher é perversa.

sábado, 14 de junho de 2008

O Desespero Humano

" Oh! sei bem tudo o que se diz da angústia humana... e presto atenção, também eu conheci, e de perto, mais de um caso; o que não se conta de existências malbaratadas! mas só se desperediça aquela que as alegrias e tristezas da vida iludem a tal ponto que jamais atinge, como um ganho decisivo para a eternidade, a consciência de ser um espírito, um eu, por outras palavras, que jamais consegue constatar ou sentir profundamente a existência de um Deus, não tão pouco que ela própria, "ela", o seu eu, existe para esse Deus, mas esta consciência, esta conquista da eternidade, só se consegue para lá do desespero. E esta outra miséria" tantas existências frustradas dum pensamento que é a beatitude das beatitudes! Dizer- ai de nós"- que nos entretemos e que se entretêm as multidões com tudo, exceto com aquilo que importa! que as arrastam a disperdiçar a sua vida no palco da vida sem nunca lhes recordar essa beatitude! que as conduzem em rebanhos... enganando-as em vez de as dispersar, de isolar cada indivíduo, a fim de que sozinho se consagre a atingir o fim supremo, o único que vale que se viva e que tem com que alimentar toda uma vida eterna. Perante essa miséria eu poderia chorar uma eternidade inteira! Mas mais um horrível sinal dessa doença - a pior de todas - é o seu segredo. Não só o desejo e os esforços bem sucedidos para escondê-la daquele que a sofre, não só que ela o possa habitar sem que ninguém, ninguém a descubra, não! mas ainda que ela de tal modo se possa dissimular no homem que nem ele se dê conta! E, esvaziada a ampulheta, a ampulheta terrestre, reduzidos a silêncio todos os ruídos do século, acabada nossa agitação febril e estéril, quando em redor tudo for silêncio, como na eternidade - homem ou mulher, rico ou pobre, subalterno ou senhor, feliz ou mal- aventurado, quer a tua cabeça tenha suportado o brilho da coroa ou que, perdido entre os humildes, não tenhas tido mais do que as penas e os suores dos dias, quer a tua glória seja celebrada enquanto durar o mundo ou esquecido, sem nome, anonimamente sigas a multidão inumerável; quer o esplendor que te rodeou tenha ultrapassado qualquer descrição humana, ou os homens te tenham aplicado a mais aviltante das condenações, quem quer tenhas sido, a ti como a cada um dos milhões dos teus semelhantes, a eternidade duma só coisa inquirirá: se a tua vida foi ou não de desespero, e se, desesperado, tu ignoravas sê-lo, ou soterravas em ti esses desespero, como um segredo angustioso, como o fruto dum amor criminoso, ou se, horrorizando os mais, desesperado, gritavas enfurecido. E, se a tua vida não foi senão o desespero, que pode então importar o resto! vitórias ou derrotas, para ti tudo está perdido, a eternidade não te dá como seu, ela não te conheceu, ou, pior ainda, identificando-te, amarra-te ao teu eu, o teu eu de desespero!."
KIERKEGAARD, Soren Aabie. O Desespero Humano. Coleção Os Pensadores, 1974. pag. 348.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Pr. Paulo Lima

Inauguro esta seção de entrevistas do meu blog com uma personalidade singular. Pastor batista, cujo ofício exerce com entusiasmo em Vila Norma, São joão de Meriti, no Rio de Janeiro, sua grande paixão é anunciar Cristo, tendo como principal característica uma sabedoria admirável para simplificar aquilo que outros teólogos só complicam: a doutrina cristã. Entretanto, sou suspeito a propor comentários: sou ovelha de seu ministério. Por isso, reservo esse espaço para que ele fale de si mesmo e de sua experiência na carreira ministerial e cristã.
Vigília da Noite- Descreva resumidamente como foi o seu chamado e motivação à carreira pastoral, seu início e as frequentes dificuldades envolvidas nesse ministério.

Pr. Paulo Lima - Aos 5 anos de idade a minha tia Carolina (Tia Calú) me disse: "Você vai crescer e vai ser um pastor" - isso foi num domingo no culto da manhã da Igreja Presbiteriana de Olaria (ano de 1950). Eu estava no colo dela no momento dessa palavra. Considero que foi uma inspiração divina que a levou àquela afirmação, pois, jamais me esqueci das suas palavras. O tempo foi passando e eu já adolescente tomei consciência da vida com as suas dificuldades, principalmente no que diz respeito ao pecado. Cheguei à conclusão que eu não poderia ser um pastor porque era indigno para tal. Julgava eu que um pastor deveria ser um homem com menos inclinação ao pecado do que eu.
Lutei muito para não ser o pastor. Somente aos 38 anos de idade é que eu cheguei ao Seminário, depois de grande dificuldade, durante a qual eu entendi que toda a minha luta se dava porque eu estava sendo desobediente ao Senhor.
Depois, abençoado e formado, assumi o ministério e tenho sido ricamente orientado pelo Senhor da Seara.

Vigília da Noite- Um exemplo em sua vida.

Pr. Paulo Lima- A vida do Pr. Nilson do Amaral Fanini.

Vigília da Noite- Como o senhor vê hoje a situação da cristandade no mundo? A igreja tem de fato exercido a sua missão ou deixado a desejar?

Pr. Paulo Lima- O inimigo lançou o joio no meio do trigo abundantemente. Hoje, a gente não pode afirmar quem é cristão e quem não é. Certamente que o fruto de cada um é que vai definir e dar a resposta. Entretanto, o "cristianismo da moda" como temos visto por aí, é algo que confunde e desorienta a quem busca a resposta a essa pergunta que você fez. A Igreja já não é una. Existem muitas denominações e muita efervescência no meio cristão, especialmente porque a maioria das denominações das dissidências, tão comuns hoje, tem fragmentado o meio dito evangélico, não permitindo que alguém se refira à IGREJA. Assim sendo, a missão de atender ao IDE de Jesus está altamente prejudicada, não permitindo uma avaliação absoluta. Mas, pode-se ver pelo contexto, que a missão de anunciar um Evangelho genuino e puro está altamente comprometida.
Vigília da Noite- Uma fonte de inspiração.

Pr. Paulo Lima- A Bíblia Sagrada.
Vigília da Noite- Uma experiência inesquecível.

Pr. Paulo Lima- Um encontro com o anjo do Senhor aos 19 anos e o reencontro com o mesmo 30 anos depois. Evito falar sobre os dois eventos que me fizeram reconhecer aquele personagem porque julgo que foi algo muito especial para mim. Por outro lado, alguém poderia julgar fantasiosa a história.

Vigília da Noite- Uma fonte de indignação.

Pr. Paulo Lima- As Casas Legislativas brasileiras me causam náuseas.

Vigília da Noite- Frase.

Pr.Paulo Lima- "O teu carisma poderá te levar onde o teu caráter não poderá te sustentar"
(Dr. Pr. Paulo Ribeiro - Assembléia de Deus)

Vigília da Noite- Os melhores livros:

1 -Barro nas Mãos do Oleiro - Dorothy Sun
2 -Sob os Céus da Palestina - Mário Barreto França (Poesias)
3 -Meu Querido Canibal - Antonio Torres

Vigília da Noite- Os melhores filmes:

1 - E o Vento Levou (inesquecível)
2 - Ladrão de Casaca

Vigília da Noite- As melhores músicas:

1 - Love Story
2 - El día em que me quieras


Vigília da Noite- O futuro:

Pr. Paulo Lima- A Deus pertence, mas espero estar trabalhando até o meu último dia.

Vigília da Noite- Seu legado:

Pr. Paulo Lima- Quero deixar impregnado na mente dos meus ouvintes que a vida (em todos os sentidos) só tem 3 degraus: SABER, CONHECER e ENTENDER. Só os entendidos serão vitoriosos. Por isso há que se especializar e ser o melhor naquilo que faz.

domingo, 8 de junho de 2008

Batismo de Sangue


Diante de um regime autoritário, todas as formas de reação e protesto parecem válidas, e com o tempo passam a ser interpretadas como oriundas de um único desejo de liberdade: o povo, na multiplicidade de expressões, se une na iniciativa de, por meio da força, do exemplo ou da idéia, promover a queda de regimes centralizadores e tiranos. E quando a igreja decide participar, mesmo não oficialmente dessa iniciativa, que antes de tudo não é política, mas social, partindo exclusivamente das camadas mais desfavorecidas da sociedade, a própria doutrina cristã se vê comprometida com a queda de regimes políticos, justiça social e tolerância a pluralidade. O cristianismo passa a ser então associado a ideais democráticos, por defender direta ou indiretamente, desde sua origem à beira do mar da galiléia e ao longo de toda a sua história, a vida. Assim nasceu a teologia da libertação, como protesto e denúncia, mas também como forma de aproximar o povo da igreja, a partir de uma indignação comum: o clamor por justiça.



Particularmente não acredito na democracia, e a forma como vejo o cristianismo, no que se refere a doutrina, diverge em alguns aspectos da teologia da libertação, contudo, gosto da ênfase propíciada por essa corrente teológica à prática, deixarei esse assunto para outra hora, entretanto, quero apenas dar ocasião ao filme, que inspirado no livro de Frei Beto, me levou às lágrimas, e perceber quão pouco cristão eu sou.



" Baseado em fatos reais, o filme conta a participação de frades dominicanos na luta clandestina contra a ditadura militar, no final dos anos 60. Movidos por ideais cristãos, eles decidem apoiar a luta armada, e são presos e torturados. Um deles, Frei Tito, é mandado para o exílio na França, onde, atormentado pelas imagens de seus carrascos, comete suicídio (...).O filme, de Helvécio Ratton, é baseado no livro homônimo do Frei Betto (vencedor do Prêmio Jabuti) e conta a ação dos dominicanos junto à Ação Libertadora Nacional - ALN, movimento guerrilheiro comandado pelo Carlos Marighella. ". Fonte: www.cranik.com/batismodesangue.html




quarta-feira, 4 de junho de 2008

Panegírico Televisivo

Estou cansado de desperdiçar cada segundo da minha vida.


Diante da Tv todos os homens são apenas expectadores de suas próprias existências, não seus participantes diretos. Chamaria de "indústria do entretenimento" apenas uma forma mais sutil e bem elaborada de morrer, onde o que se está em jogo é a imolação da própria capacidade de respirar por si e para si próprio.

É o mesmo que vender a alma para o diabo, e o corpo também.


Todo vício é uma fonte inesgotável de lucro e miséria: a Tv se tornou, mediante o patrocínio das grandes marcas de cigarro, cerveja e pornografia, uma fonte rentável de promoção à morte dos trabalhadores.


Vivo cercado de cegos! Todavia não tenho certeza de ser um daqueles homens raros que ainda não se recusam a ver seus contemporâneos como eles são por dentro - ainda não adquiri estômago suficiente para abrir víceras de uma multidão de mortos.


Somos embrutecidos pela indução ao status, ao prazer e ao poder de vingança, descendo assim, chegaremos rápido ao inferno.


"Oh Senhor, dai-me forças para subir ao céu"


Estou cançado de ser iludido pelo encantamento de fama e da hipócrita maneira de divertir as massas. Estou decidido a viver como uma força ácida de resistência. É necessário portanto, imunidade contra o vírus da impulsividade, da música que envolve ouvidos doces.
Convido a escutar o silêncio, o protesto emudecido pelos donos desse decadente mundo - agora as crianças choram, e não será tão fácil deixar de fazê-las parar de chorar.

domingo, 1 de junho de 2008

Textos Antigos - Ser Profeta

O caminhar solitário é a condição do profeta, assim como de todo aquele que se devota inteiramente ao reino de Deus. Sua solidão, embora lhe seja um estigma de sua busca por santidade, de sua mais profunda dor de viver paralelamente entre dois mundos, pelas quais ele se vê esmagado, contorcido e ao mesmo tempo estendido, dilacerado, mundos que se opõe entre si, não se esvanece em pleno comodismo egoísta, as multidões o procuram independente do motivo, e para a multidão o profeta se devota.

O profeta, mesmo na mais absoluta solidão, se doa à multidão pedinte, as vezes até ingrata. A multidão somente pede e cabe ao profeta se doar a ela, todavia, sempre irá continuar pua massa de homens sem nome e carentes, pura figura abstrata. A doação exercida pelo profeta o esvazia de si mesmo, através de seus esforços em favor da multidão, até que por fim, não exista mais nada nele o que doar, ele se esvazia por completo, até que dele reste absolutamente o nada. Assim o profeta morre, morre como nada, sem outrora Deus lhe tinha dado como homem acima da multidão, o profeta morre sem nome, para que a multidão anônima, perdesse pelo seu nome o nome de multidão.

Entretanto, não é pelo seu nome que o profeta profetiza, na sua voz ecoa um nome que não é o seu: Assim diz o Senhor..., é a primeira de suas premissas, tal como que doando-o a multidão anônima, para que por esse nome, a massa pudesse abandonar a sua condição de anonimato espiritual e social, para que, ganhando identidade, abandonasse a sua condição de mendicância espiritual e social e se tornasse livre. O nome do Senhor se ocultou na boca dos profetas, e na boca dos profetas ficou, sendo assim, impedida ficou a multidão de receber o nome do Senhor, recebendo por isso, o nome do profeta que eles tanto veneram depois de os terem assassinado, roubando-lhe até o nome. O profeta passou a ser objeto de veneração e o nome do Senhor de esquecimento. Todavia, Deus se encarnou, e como carne, uniu Deus e homem, mensagem e mensageiro, anunciou seu nome e o doou aos homens, se doou inteiramente e morreu na cruz por isso, pois em seu corpo não havia mais nada o que doar a não ser o seu próprio corpo e sangue.