quarta-feira, 15 de abril de 2009

Comentário Sobre Meu Livro "O Deus de Carne"

"escandaliza-te ou crê"
Por Silas Fiorotti:

O meu amigo Diogo Santana se propôs a falar sobre a pessoa mais extraordinária que passou pelo mundo (Jesus de Nazaré) - seu nascimento, sua morte e ressurreição. Uma história que me dá esperança para continuar lutando, uma história que me emociona por ser a expressão mais forte do ato de amar. E eu gostei muito do que encontrei no seu mais novo livro - "O Deus de carne: uma introdução a cristologia", principalmente porque o escândalo da cruz está presente (cf. Gl. 3.13). A páscoa cristã passa necessariamente por uma cruz vulgar. Eu me emocionei com as palavras do Diogo, quando ele diz que o nascimento de Jesus (Deus se fez carne) significa que

"O céu desceu até nós para fazer justiça aos homens simples do campo, de ontem e de hoje, humildes pastores de ovelhas e criadores de gado; e quando esse menino se tornar um homem dará o céu também aos doentes e excomungados pela lei e mortos pela letra, aos encarcerados, aos famintos de pão e de eternidade, as prostitutas, adúlteras e todas as mulheres subjugadas, a todo tipo de criminoso arrependido - o céu será um lugar de crianças, onde todos os adultos serão expulsos e crescer será apenas um pesadelo que já passou, contudo, é preciso crer e crer com paixão, de elevar a vida acima da perenidade do mundo." (p. 31)
Um paradoxo, o próprio Deus se torna criatura, e nos mostra o ideal de humanidade, ele verdadeiramente foi um ser humano, pessoal, único - "o único homem legitimamente humano, por isso ele é a verdade, uma verdade (ser), que nenhum homem tem, por isso ele é legitimamente Deus" (p. 41).
Jesus morreu. O Diogo destaca que "todos nós o matamos", mas também fala da "responsabilidade de Deus na morte de Jesus". Na minha opinião, quando ele fala dessa responsabilidade, parece que Deus foi injusto com seu filho, que pai enviaria seu filho para morrer? - e já vejo o Diogo me dizendo que Kierkegaard critica essa ética universalista. Mas Jesus se entregou por nossos pecados (cf. Gl. 1.4), ele foi até as últimas consequências por amor.
Eu entendo que seja apropriado nos afastarmos de uma visão sacrificialista e pensarmos na morte de Jesus como martírio que contém por um lado o seu assassinato e por outro a sua doação."Não se trata, porém, de pensar na cruz, mas de passar por ela" (p. 61). Sim, e também poderíamos dizer que não se trata de carregar a cruz ou o madeiro, porque nem mesmo Jesus fez isso (foi o Simão cireneu - cf. Mt. 27.32), mas de morrermos na cruz com Jesus.O conceito de culpa que o Diogo apresenta é o mesmo de angústia religiosa em Kierkegaard - aqui eu visualizo a conversão (a Deus e aos pobres), ele diz:

"O sentimento de culpa diante da cruz, do sofrimento de Cristo, da igreja, do próximo e do mundo, é a fonte pela qual Deus oferece o seu perdão, pois a culpa nada mais é do que o sentimento de responsabilidade diante do sofrimento alheio." (p. 62)Jesus ressuscitou!! - "o fim sempre é um novo começo". A sua ressurreição é "uma nova criação da parte de Deus", ela permite uma profunda reflexão sobre a relação entre fé e história. E diante dela a tensão: escandaliza-te ou crê!!

"a fé evangélica não se limita a uma exigência de transformação social e de crítica aos paradigmas que justificam a exploração e a desigualdade, mas também e acima de tudo, que tal transformação seja oriunda de uma reforma na identidade dos homens, (...) que os homens também mudem individualmente, (...) mais importante do que o desenvolvimento social e a justiça em si, é que tais iniciativas sejam oriundas de um coração que não seja alheio ou indiferente a tais transformações sociais, passivo, mas atuante no mundo como agente transformador." (p. 73)
E glória a Deus por sua graça, sendo que Jesus nos libertou para sermos verdadeiramente livres (cf. Gl. 5.1):

"o sentido da graça: a infinita misericórdia de Deus possibilita uma escolha ao homem: continuar no pecado (lembrando que o pecado não se limita a uma conduta moral) ao mesmo tempo em poder pertencer a uma comunidade cristã (banalizando assim a sua liberdade) ou tornar sua consciência responsável o suficiente para um contínuo exercício de avaliação moral diante de Deus." (p. 75-76)
Referência bibliográfica:SANTANA, D. O Deus de carne: uma introdução a cristologia. Pará de Minas: Virtualbooks, 2009.