sábado, 24 de março de 2007

Anarquismo Cristão e Existência social do homem

A transformação de todas as coisas se dá por meio de uma constante modificação interior, por onde os conceitos, as idéias, os valores e até mesmo todos os atos passam a ser destituídos de sentido. É a grande fase da destruição do existente, da dor de se descorir num mundo totalmente ausente de sentido, é a fase da crucificação e da morte, do isolamento e da solidão, por onde os homens começam a se mostrar totalmente hostís a qualquer tipo de sociabilidade, revelando progressivamente a sua anarquização. O homem ausente de sentido social é para essa mesma sociedade o seu opositor. É nesse sentido que surgem os marginais sociais, os criminosos que tanto a sociedade recrimina, sendo eles mesmos um produto do seu próprio meio. Estes jamais passarão para a segunda fase, a fase da resistência, exatamente porque toda a sua forma passiva de viver no mundo, não lhes instiga a negar tudo aquilo que o mundo quer que eles sejam. O mundo nos torna seu opositor, mas somente seremos maiores que o mundo quando negarmos tudo aquilo que o mundo quer que sejamos enquanto seu opositor. É necessário uma outra forma de oposição. Necessitamos de uma oposição autêntica, individual, que não seja guiada pelos próprios valores sociais que nos inclinam passivamente à marginalização. A anarquização é inevitável e a marginalização uma opção que quando a negamos nos aproximamos de uma utopia, de um sonho. A resistência é uma oposição utópica, que enquanto oposição é crítica. Nossa utopia é crítica, nesse sentido, nem todo utopismo é válido enquanto instrumento de transformação social, mas somente os utopismos que reagem contra os valores impostos pela sociedade constituida. O Cristianismo desde suas origens, sempre aos olhos dos grandes críticos textuais do Novo testamento, sempre se inclinou a uma utopia, e quando digo, uma utopia, afirmo que o Cristianismo possui valores tão distantes da sociedade civíl que aos olhos da mesma se parecem irrealizávéis. A encarnação da divindade e a sua inevitável crucificação revela uma distância intransponível entre Deus e os homens, revelam a existência de dois universos opostos que estão em constante luta um contra o outro. O homem luta contra Deus e por isso mesmo o explusa do seu universo, mesmo querendo Deus uma aproximação. É exatamente nessas circunstâncias que estando Deus no mundo, ele sempre se mostrará como seu opositor, da mesma maneira que estando o homem no mundo de Deus, ele sempre será visto como seu opositor, daí se originou por parte dos homens a condenação de Cristo como falso messias e por parte de Deus do conceito de pecado.

Deus entrou no mundo dos homens para fazer os homens entrarem no mundo de Deus. Sendo assim, Deus através da sua crucificação nos incitou a vermos a nós mesmos como pecadores, e a nos olharmos como tal, superarmos essa condição, através de uma conciliação entre o homem e Deus. É exatamente nessas condições que Cristo sempre incita em seus sermões a aparição presente (interior) e futura (exterior) do Reino de Deus. O Reino de Deus unido ao reino do homens no coração e ao redor de seus olhos. Todavia, esse Reino é um reino a ser construído, e isso requer ação. A contrução sempre requer uma ação, desse modo um padrão de conduta que enquanto destruição do mundo presente e resistência da reação desse mundo corrompido, é a implantação do Reino de Deus na vida dos homens. Essa é a maior máxima que um cristão pode ter para sua vida: destruição (anarquização), resistência (crítica utópica aos valores estabelecidos) e construção (ação na implantação de novos valores).

Diogo Alves da Conceição Santana.