†Jo. 8.1-11.
Deixar-se vencer pelo amor, não resistir a ele. Não o amor transitório de paixões, fundado em benefício próprio e satisfação pessoal, fruto secreto de uma profunda carência emotiva que impulsiona desesperadamente a lançar-se diante de braços estranhos, indiferentes, mas sim, o amor que vai ao encontro do outro, lhe reconhece, lhe identifica diante de Deus, amor que identifica criador e criatura. Que promove um encontro. E assim foi entre Jesus e uma mulher apanhada em adultério.
Tal relato se encontra precisamente entre dois grandes discursos de Jesus: um sobre sua pessoa (Jo. 7.10-53) e outro sobre sua missão (Jo. 8.12- 59). Jesus participa da festa dos tabernáculos, uma festa cerimonial judaica de uma semana cujo fim era lembrar ao povo o tempo em que seus ancestrais ainda viviam em tendas quando peregrinavam no deserto depois do êxodo. Nessa festa Jesus discursa sobre sua identidade. Contudo, inserido neste discurso estão severas críticas ao modo de administração da lei feita pelos sacerdotes, assim como, o modo como interpretam a lei e os procedimentos utilizados sobre ela para exercerem qualquer tipo de julgamento, dentre eles, sobre quem era Jesus. Isso é interpretado pelos escribas e fariseus como um tipo de provocação, procurando por isso a todo custo, matá-lo.
Terminada a festa Jesus resolve passar a noite no monte das oliveiras em oração. Antes do nascer do sol se dirige ao templo e começa a ensinar. É exatamente nesse momento de cansaço físico e mental que os principais da sinagoga lhe resolvem testar – uma clara resposta ao discurso de Jesus feito um dia antes. Baseados nas afirmações de Jesus sobre como interpretam a lei, trazem em sua presença uma mulher apanhada em adultério. Alheia a tais embates entre Jesus e os principais da Sinagoga, ela é simplesmente usada como um meio para condenar Jesus à morte. Morrendo Jesus ela também morreria. Entretanto, conseguindo livrar-se da armadilha, a mulher também seria preservada com vida. Ironicamente a vida dela estava nas mãos de Jesus, não dos seus algozes. Nesses momentos de tensão, onde Deus, incompreendido, parece ser um tirano cruel, onde não conseguimos enxergar tão longe a fim de compreender seus desígnos, Isaías nos ensina que quando nossa cegueira espiritual (que pode ou não ser oriunda de um pecado) nos impede de enxergar o mesmo que Deus, devemos apenas estender as mãos e deixar-nos guiar por ele (Is.45. 1-5).
E, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato adulterando, e na lei nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu pois que dizes?. Isto diziam eles, tentando-o, para que tivessem de que o acusar ... (vv.5-6).
Por um momento Jesus se calou. Escrevia na terra. Depois de uma pausa, Cristo responde a provocação com a já clássica afirmação:
... Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela (v.7).
Todos são iguais à mulher adúltera. Condená-la seria reconhecer em si mesmo a necessidade de punição, e por isso mesmo, de morte. Todos se retiram, maculados pelos seus próprios pecados e consciências, e por isso, continuam pecadores, condenados pela justiça de Deus, mortos. Estão conformados com as suas vidas. Só a mulher permanece com Jesus. E por isso ela é perdoada. Um pecador quando diante de Cristo possui apenas a escolha de renunciar a Cristo ou os seus pecados. Por isso a recomendação de Jesus à mulher: Vai-te, e não peques mais (v.11).
Como julgar uma pessoa livre? Nem mesmo Cristo Julga. Martin Heidegger certa vez escreveu que apenas nos definimos quando morremos. É por essa razão que o julgamento de Jesus é escatológico, onde separará bodes de ovelhas. Para o Judaísmo do primeiro século a lei definia moralmente os indivíduos em bons ou maus, em santos e pecadores, em salvos e condenados. Com a corrupção da lei feita pelos sacerdotes, a lei somente poderia ter uma aplicação válida quando administrada pelo seu próprio autor: Cristo julga! E perdoa. Renuncia a lei? Apenas ensina a sua função: humanizar o homem, isto é, coloca-lo diante de seu criador.
Karl Barth escreveu sobre o amor de Cristo:
O amor não é Eros, que se cobiça, mas Ágape, que jamais acabará;
A novidade, a originalidade do amor é ele não participar do círculo vicioso que vai do mal ao mal e da reação à revolução;
O amor é a “justiça eterna equalizadora” (Kierkegaard);
O amor edifica a comunidade porque unicamente procura comunhão;
O amor nada espera porque já atingiu o alvo;
Nada procura, porque já encontrou;
Nada quer enquanto já realizou;
Nada pergunta, porque já sabe;
Não luta, porque já venceu;
O amor não contradiz e, por isso não pode ser refutado;
Não concorre, e, portanto, não é vencido;
Não busca decisão e, consequentemente, ele próprio é a decisão;
O amor destrói os ídolos, porque não cria outros.
segunda-feira, 1 de março de 2010
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Sermão Cerimonial
Em ocasião do lançamento do livro “O Deus de Carne”
na Paróquia Anglicana da Santíssima Trindade em Copacabana
no dia 14 de março de 2009.
Mt. 14. 22-31
Mt. 25. 14-30
Ap. 4. 4; 10-11
Irmãos e irmãs,
Estamos hoje reunidos em culto solene de gratidão a Deus pela sua obra realizada em nós. Que nos inspira, com o sopro de seu Espírito, a louvar o seu nome e a comunicar a plenos pulmões a boa nova do evangelho. Até mesmo se utilizando da escrita para tal empenho. A mesma vocação dos santos apóstolos e profetas. A mesma vocação do próprio Deus, autor da nossa fé, da nossa nova vida em Cristo. Em tom poético, arriscaria dizer que Deus também é escritor.
Entretanto, desejo confessar uma preocupação : me sinto intensamente pressionado pelas circunstâncias ao redor a trair todos os meus ideais mais valiosos, ao sentido de toda a minha vida, me sinto pressionado a me tornar um homem comum. Talvez eu mate o idealista revolucionário que existe em mim. De anarquista, escolha participar de algum partido político, me torne um
funcionário público, tenha um bom salário, uma bela esposa, constitua uma família linda. De intelectual, talvez eu queime todos os meus livros e esqueça meu amor pela causa da verdade: não se dá para sobreviver só de idealismo, é preciso comer, vestir, um lugar para morar, ter um pouco de conforto e um bom nome na sociedade. De cristão eu me torne ateu e do céu eu prefira o inferno. E no final de uma curta ou longa velhice, eu morra com a sensação comum de muitos de meus contemporâneos de ter jogado a vida no lixo, ou melhor, na sepultura. De ter comido, bebido, casado, tido filhos, até que chegue o dilúvio, o meu dilúvio e me surpreenda. E depois de submerso na sepultura, seja completamente esquecido pelas gerações futuras, e depois de uns cinquenta anos de morto, ninguém mais saiba quem eu fui. Enfim, um homem comum, anônimo, imerso na multidão de vivos e de mortos. Não se trata de se ter fama ou sucesso, mas do desejo sincero de deixar um legado. Será que eu consigo parar de escrever, e deixar de ter a obsessão de querer legar meu nome e
um exemplo para as gerações futuras? Clarice Lispector escreveu sobre a vocação de escritor:
Escrevo por não ter nada o que fazer no mundo: sobrei e não há lugar pra mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu morreria simbolicamente todos os dias.
Diferente dela, acredito que é exatamente o hábito de escrever, que me insere no cotidiano de maneira crítica. Não sou apenas um observador do mundo, mas também participante direto do seu destino, ou seja, efeito e causa de sua história. Ser escritor, ainda mais cristão, me compromete a expressar, em parte com cérebro e noutra com o coração, através da devoção, essa caótica síntese que é viver entre o espiritual e o carnal ( como diria uma antiga fórmula luterana: semper peccator, semper iustus, semper paenitens ), deixando para as gerações posteriores simultaneamente um testemunho crítico do meu tempo, de mim mesmo e da minha fé. Esse é o meu legado, que talvez possa inspirar uma dezena de homens, quem sabe até menos que isso, e os motive a não querer passar pela vida como simples atores, porque viver não é tão fácil com decorar falas e atos dos personagens contidos num texto. Alguns como coadjuvantes, outros como atores principais, mas Deus nos chama para que de atores na vida, sejamos quem a escreve, para isso é preciso que se viva de verdade. Que tenhamos identidade espiritual, que sejamos reconhecidos pelo criador como filhos, e não deixados à orfandade espiritual. Jesus inspirou doze,
até mesmo quem o traiu. Sendo assim, não me conformo com o destino que muitas pessoas ao meu redor querem que eu tenha. Ando em cima das águas em direção ao meu mestre, temeroso pelas ondas e o vento, espantado por ter os pés em cima das ondas: Tende bom ânimo, sou eu, não temais. Disse Jesus a Pedro. Hoje, Jesus se dirige a nós e diz: .. tende bom ânimo, eu venci o mundo1. Ânimo! Pois Cristo está a espera. Mas as ondas e o vento parecem ser mais fortes e eu pequeno demais para suportar toda a violência de um mundo hostil a própria vida. Sinto as águas me envolverem: Senhor, salva-
me! A mão do meu Senhor se estende em socorro, e com ela, outras mãos se estendem também, e eu não poderia deixar de agradecer - las nesta oportunidade:
Insisto, como fiz no primeiro livro, mesmo com ressalvas, em agradecer a mulher que me fez conhecer a Cristo – Esse é o legado dela:
Não lhe agradeço por ter me dado a vida: ela não é sua. Todavia, lhe agradeço por fazer dela, exatamente nos momentos em que me faltaram os amigos, as palavras e até mesmo a força para continuar vivendo, momentos em que me fizeram recordar da maior herança que você pode me dar: a minha fé. Caminho que sigo sozinho, mas que sem você talvez eu não teria encontrado a direção certa.
Agradeço a minha congregação, a Igreja Batista de Vila Norma, por ter apoiado desde o início, com o meu primeiro livro, minha loucura em querer ser escritor, ao irmão em Cristo, grande amigo e mestre, rev. Carlos Alberto, que rendeu para este projeto inestimáveis contribuições de revisão e sugestões para o texto, juntamente com toda a sua congregação, que nos receberam, a mim e
toda a minha igreja, com todo carinho e dedicação, próprios de irmãos, deixando de lado as diferenças teológicas a fim de manter o propósito comum de nos reunirmos verdadeiramente ao redor de Jesus Cristo. Agradeço a todos que dedicaram seus esforços direta ou indiretamente com idéias, empenho e com a própria presença para a realização deste ato solene. É inestimável o valor de todos vocês para a minha vida. Senhor, nós hoje te entregamos apenas o que é teu, e muito mais que isso, de dois ou cinco talentos, fazemos quatro ou dez, e mesmo assim, envergonhado diante desta congregação, diante de todos os anjos, santos e seres que povoam o céu e diante de ti mesmo ó Deus, penso comigo mesmo: sou um servo inútil porque fiz apenas o que deveria fazer2 , sou apenas o que deveria ser. Mas o senhor nos diz: Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor. E prostrados aos teus pés, entregamos a nossa coroa
diante do teu trono, a mesma que hoje, aqui e agora, nos concede pela tua grande misericórdia:
Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder; porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram criadas.
Amigos e irmãos em Cristo, não pensem que é por algum tipo de talento meu que estamos aqui reunidos. Se assim fosse, creio que depois de lerem o livro que hoje os apresento, muitos se lamentariam por terem jogado dinheiro fora. Não, não é por esse motivo que nós estamos aqui : mas sim porque Deus está cumprindo uma promessa, e não só isso, Deus está cumprindo uma promessa a alguém que sinceramente tem consciência de que não a merece. Como bem
profetizou Isaías : Levanta em redor os teus olhos, e vê; todos estes já se ajuntaram, e vêm a ti (...) . Então o verás, e serás iluminado, e o teu coração estremecerá e se alargará3. Meu coração hoje estremece – de alegria. Isso é um milagre, o meu milagre, e Deus é louvado por isso. É exatamente por esse motivo que o criador nos presenteia com este dia: para glorificá-lo, porque tudo é dele, e nós somos apenas obra de suas mãos. Cristo é o centro, e nós apenas os horbis iluminados por sua presença, situados a sua volta. Porque nós passamos, mas ele permanece para sempre. Glorifiquemos a Cristo e tudo o que ele faz por nós. Antes que as palavras fujam, somente me resta, sinceramente à Deus lhe dirigir em oração o agradecimento:
Quem é como o Senhor nosso Deus, que habita nas alturas; que se curva; para ver o que está nos céus e na terra; que do pó levanta o pequeno, e do monturo ergue o necessitado, para o fazer assentar com os príncipes, sim, com os príncipes do seu povo4.
Por fim, gostaria de dizer a todos o meu muito obrigado, que Deus os abençoe e os inspire com fé e ousadia a sermos fiéis aos seus designos.
na Paróquia Anglicana da Santíssima Trindade em Copacabana
no dia 14 de março de 2009.
Mt. 14. 22-31
Mt. 25. 14-30
Ap. 4. 4; 10-11
Irmãos e irmãs,
Estamos hoje reunidos em culto solene de gratidão a Deus pela sua obra realizada em nós. Que nos inspira, com o sopro de seu Espírito, a louvar o seu nome e a comunicar a plenos pulmões a boa nova do evangelho. Até mesmo se utilizando da escrita para tal empenho. A mesma vocação dos santos apóstolos e profetas. A mesma vocação do próprio Deus, autor da nossa fé, da nossa nova vida em Cristo. Em tom poético, arriscaria dizer que Deus também é escritor.
Entretanto, desejo confessar uma preocupação : me sinto intensamente pressionado pelas circunstâncias ao redor a trair todos os meus ideais mais valiosos, ao sentido de toda a minha vida, me sinto pressionado a me tornar um homem comum. Talvez eu mate o idealista revolucionário que existe em mim. De anarquista, escolha participar de algum partido político, me torne um
funcionário público, tenha um bom salário, uma bela esposa, constitua uma família linda. De intelectual, talvez eu queime todos os meus livros e esqueça meu amor pela causa da verdade: não se dá para sobreviver só de idealismo, é preciso comer, vestir, um lugar para morar, ter um pouco de conforto e um bom nome na sociedade. De cristão eu me torne ateu e do céu eu prefira o inferno. E no final de uma curta ou longa velhice, eu morra com a sensação comum de muitos de meus contemporâneos de ter jogado a vida no lixo, ou melhor, na sepultura. De ter comido, bebido, casado, tido filhos, até que chegue o dilúvio, o meu dilúvio e me surpreenda. E depois de submerso na sepultura, seja completamente esquecido pelas gerações futuras, e depois de uns cinquenta anos de morto, ninguém mais saiba quem eu fui. Enfim, um homem comum, anônimo, imerso na multidão de vivos e de mortos. Não se trata de se ter fama ou sucesso, mas do desejo sincero de deixar um legado. Será que eu consigo parar de escrever, e deixar de ter a obsessão de querer legar meu nome e
um exemplo para as gerações futuras? Clarice Lispector escreveu sobre a vocação de escritor:
Escrevo por não ter nada o que fazer no mundo: sobrei e não há lugar pra mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu morreria simbolicamente todos os dias.
Diferente dela, acredito que é exatamente o hábito de escrever, que me insere no cotidiano de maneira crítica. Não sou apenas um observador do mundo, mas também participante direto do seu destino, ou seja, efeito e causa de sua história. Ser escritor, ainda mais cristão, me compromete a expressar, em parte com cérebro e noutra com o coração, através da devoção, essa caótica síntese que é viver entre o espiritual e o carnal ( como diria uma antiga fórmula luterana: semper peccator, semper iustus, semper paenitens ), deixando para as gerações posteriores simultaneamente um testemunho crítico do meu tempo, de mim mesmo e da minha fé. Esse é o meu legado, que talvez possa inspirar uma dezena de homens, quem sabe até menos que isso, e os motive a não querer passar pela vida como simples atores, porque viver não é tão fácil com decorar falas e atos dos personagens contidos num texto. Alguns como coadjuvantes, outros como atores principais, mas Deus nos chama para que de atores na vida, sejamos quem a escreve, para isso é preciso que se viva de verdade. Que tenhamos identidade espiritual, que sejamos reconhecidos pelo criador como filhos, e não deixados à orfandade espiritual. Jesus inspirou doze,
até mesmo quem o traiu. Sendo assim, não me conformo com o destino que muitas pessoas ao meu redor querem que eu tenha. Ando em cima das águas em direção ao meu mestre, temeroso pelas ondas e o vento, espantado por ter os pés em cima das ondas: Tende bom ânimo, sou eu, não temais. Disse Jesus a Pedro. Hoje, Jesus se dirige a nós e diz: .. tende bom ânimo, eu venci o mundo1. Ânimo! Pois Cristo está a espera. Mas as ondas e o vento parecem ser mais fortes e eu pequeno demais para suportar toda a violência de um mundo hostil a própria vida. Sinto as águas me envolverem: Senhor, salva-
me! A mão do meu Senhor se estende em socorro, e com ela, outras mãos se estendem também, e eu não poderia deixar de agradecer - las nesta oportunidade:
Insisto, como fiz no primeiro livro, mesmo com ressalvas, em agradecer a mulher que me fez conhecer a Cristo – Esse é o legado dela:
Não lhe agradeço por ter me dado a vida: ela não é sua. Todavia, lhe agradeço por fazer dela, exatamente nos momentos em que me faltaram os amigos, as palavras e até mesmo a força para continuar vivendo, momentos em que me fizeram recordar da maior herança que você pode me dar: a minha fé. Caminho que sigo sozinho, mas que sem você talvez eu não teria encontrado a direção certa.
Agradeço a minha congregação, a Igreja Batista de Vila Norma, por ter apoiado desde o início, com o meu primeiro livro, minha loucura em querer ser escritor, ao irmão em Cristo, grande amigo e mestre, rev. Carlos Alberto, que rendeu para este projeto inestimáveis contribuições de revisão e sugestões para o texto, juntamente com toda a sua congregação, que nos receberam, a mim e
toda a minha igreja, com todo carinho e dedicação, próprios de irmãos, deixando de lado as diferenças teológicas a fim de manter o propósito comum de nos reunirmos verdadeiramente ao redor de Jesus Cristo. Agradeço a todos que dedicaram seus esforços direta ou indiretamente com idéias, empenho e com a própria presença para a realização deste ato solene. É inestimável o valor de todos vocês para a minha vida. Senhor, nós hoje te entregamos apenas o que é teu, e muito mais que isso, de dois ou cinco talentos, fazemos quatro ou dez, e mesmo assim, envergonhado diante desta congregação, diante de todos os anjos, santos e seres que povoam o céu e diante de ti mesmo ó Deus, penso comigo mesmo: sou um servo inútil porque fiz apenas o que deveria fazer2 , sou apenas o que deveria ser. Mas o senhor nos diz: Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor. E prostrados aos teus pés, entregamos a nossa coroa
diante do teu trono, a mesma que hoje, aqui e agora, nos concede pela tua grande misericórdia:
Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder; porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram criadas.
Amigos e irmãos em Cristo, não pensem que é por algum tipo de talento meu que estamos aqui reunidos. Se assim fosse, creio que depois de lerem o livro que hoje os apresento, muitos se lamentariam por terem jogado dinheiro fora. Não, não é por esse motivo que nós estamos aqui : mas sim porque Deus está cumprindo uma promessa, e não só isso, Deus está cumprindo uma promessa a alguém que sinceramente tem consciência de que não a merece. Como bem
profetizou Isaías : Levanta em redor os teus olhos, e vê; todos estes já se ajuntaram, e vêm a ti (...) . Então o verás, e serás iluminado, e o teu coração estremecerá e se alargará3. Meu coração hoje estremece – de alegria. Isso é um milagre, o meu milagre, e Deus é louvado por isso. É exatamente por esse motivo que o criador nos presenteia com este dia: para glorificá-lo, porque tudo é dele, e nós somos apenas obra de suas mãos. Cristo é o centro, e nós apenas os horbis iluminados por sua presença, situados a sua volta. Porque nós passamos, mas ele permanece para sempre. Glorifiquemos a Cristo e tudo o que ele faz por nós. Antes que as palavras fujam, somente me resta, sinceramente à Deus lhe dirigir em oração o agradecimento:
Quem é como o Senhor nosso Deus, que habita nas alturas; que se curva; para ver o que está nos céus e na terra; que do pó levanta o pequeno, e do monturo ergue o necessitado, para o fazer assentar com os príncipes, sim, com os príncipes do seu povo4.
Por fim, gostaria de dizer a todos o meu muito obrigado, que Deus os abençoe e os inspire com fé e ousadia a sermos fiéis aos seus designos.
Sermão Cerimonial
† Leitura antifonal: Sl. 22. 1- 31.
Em ocasião do Culto Jovem realizado na Igreja Evangélica Assembléia de Deus
Ministério dos remanescentes, no dia 7 de fevereiro de 2009.
Irmãos e irmãs,
É evidente em toda a autobiografia do rei Davi ( característica particular dos salmos ), a forte
ênfase por ele deixada, de atribuir suas virtudes de guerreiro, sua força e coragem, como oriundas exclusivamente de sua dependência a Deus1. É reconhecido por ele que o menor e o mais novo dos filhos de Jessé não nasceu para ser um homem de guerra. Seu pai lhe envia para o pasto, para cuidar das ovelhas, animais domesticados com facilidade. Como ele pôde vencer um gigante se com dificuldades suportava o peso de uma armadura e de uma espada? Como então teria conseguido defender suas ovelhas de um leão e um urso?... Porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração2. É o coração desse simples pastor de ovelhas que Deus quer que lidere a nação dos hebreus. Davi se torna um rei com o coração de um pastor. Por isso ele vence, e com isso ganha aliados.
Mas quando Deus se afasta, tal circunstância motiva sua lamentação, onde reconhece que não é
forte e nem corajoso sozinho:
Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que te alongas das palavras do meu bramido, e não me auxilias? Deus meu, eu clamo de dia, e tu não me ouves; de noite; e não tenho sossego ( vv.1-2 ).
O salmista se queixa da distância de Deus. O maior herói de Israel está sozinho. Ele não é mais
forte e nem corajoso, mas frágil e tímido, não é mais o rei, mas traz à Deus em oração o simples
pastor de ovelhas. Deixa transparecer do seu íntimo a crença de que Deus o abandonou. É
exatamente nesse tipo de situação, de fraqueza interior e dúvidas, o momento oportuno para o
surgimento de inimigos, que ele representa bem, utilizando-se de símbolos de animais reconhecidos por sua força ( o touro, o leão, o cão e o búfalo ). Ele se queixa de solidão espiritual e
da intensa perseguição dos seus inimigos. O salmista reconhece que sozinho ele não é um guerreiro, que é insiguinificante diante do poder de Deus e dos homens. Sabe que não pode vencer um ou outro. Ele não ousa lutar com Deus, mesmo por uma benção como fez Jacó, sabe que mesmo se a conseguisse, isso lhe trairia marcas dolorosas para o resto da vida. Ele não ousa lutar contra os seus perseguidores, porque acredita que sem Deus seus esforços seriam inúteis. Mesmo sofrendo, não chama Deus de injusto ou cruel, apenas insiste em conhecer os motivos pelos quais Deus lhe permite sofrer. Um pecado esquecido? Uma provação? Ele não sabe responder. O salmista questiona o tempo de Deus. O salmista julga que Deus demora, sinal de inquietação, de desespero, é por isso que ele clama intensamente. Exige urgência em sua causa, de uma solução rápida e eficiente de Deus sobre o seu problema. A exigência de velocidade nos empreendimentos humanos nos faz acreditar que podemos julgar os empreendimentos divinos com a mesma medida, o que é um erro.
Certa vez, assistindo ao filme O Exorcista: O Início, a doutora Sara em conversa com o cético ex
padre Maryn, ao comentar os abusos que sofreu durante a segunda guerra mundial pelos nazistas exclama em tom profético: É do inferno que temos a melhor visão de Deus. E a parábola do rico e do Lázaro é um exemplo disso: abrindo os seus olhos no Hades e de longe vendo Abraão e Lázaro, não se ouve de sua boca sequer um sussurro de blasfêmia contra Deus, pelo contrário, reconhece que está lá por consequência de sua vida, o que ele pede é misericórdia. É exatamente quando estamos embaixo que somente temos como alternativa olharmos para cima: Elevo os meus olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra.
Antes de prosseguir em meu caminho, e lançar o meu olhar para frente uma vez mais, elevo só, minhas mãos a ti na direção de quem eu fujo. A ti, das profundezas do meu coração, tenho dedicado altares festivos para que, em cada momento, tua voz me pudesse chamar. Sobre esses altares estão gravados em fogo estas palavras: Ao Deus desconhecido. Teu, sou eu, embora até o presente tenha me associado aos sacrílegos. Teu, sou eu, não obstante os laços que me puxam para o abismo. Mesmo querendo fugir, sinto-me forçado a servi-lo. Eu quero te conhecer, desconhecido. Tu que me penetras a alma, e qual turbilhão invades a minha vida. Tu, o incompreensível, mas meu semelhante. Quero te conhecer. Quero servir só a ti. ( Nietzsche ).
Fruto de um mundo sem Deus. Deus está morto? O homem está. A criatura sem o criador não
tem sentido, e sem sentido, o mundo passa a ser conduzido pela barbárie: A máquina expeliu o
maquinista; está correndo cegamente no espaço ( Horkheimer ). O mundo inteiro começa a ter a
sensação de que está morrendo. E Deus parece que não ouve, não fala, não vê. Sidney
Garambone, escritor brasileiro, em seu livro Eu, Deus, escreve: A ausência é a forma mais bela de presença. A ausência promove o grito de socorro do aflito que clama pela presença de Deus. Sem ausência não há grito de socorro, não há dependência da criatura pelo criador.
O salmista recorda da sua vocação, do seu chamado, e com isso reconhece o Senhor como o Deus
da sua vida. Do seu tempo, da sua história, dos seus projetos. Reconhece quem Deus é, e quem é
ele: Porém tu és santo.../ Mas eu sou verme, e não homem9. Isto significa que há um pacto, uma
aliança, que pela circunstância exige fidelidade, literalmente, que exige fé. Não se trata porém, de
se ter a mesma perspectiva de Deus, neste Salmo Davi reconhece que por não compreender os
motivos pelos quais Deus lhe permite sofrer, não consegue enxergar o mesmo que Deus. Se trata
porém de, mesmo quando não vemos o que Deus vê, deixar que ele nos guie pela mão e nos leve
onde deseja. Sinal do amparo divino diante da nossa cegueira espiritual. Embora não sabemos ao
certo por onde podemos caminhar ( como Abraão que sai sem rumo para uma terra que não
conhece e o povo hebreu no deserto ) ele vai adiante de nós. Entretanto, a grandeza de Deus não consiste em ressuscitar vivos, mas mortos. A grandeza de Deus consiste em agir apenas no fim das nossas possibilidades. Esse é o milagre. A grandeza de Deus consiste em deixar que tudo seja destruído, para que um novo céu e uma nova terra nasçam. Promessa apenas para os que crêem nele. Quando Deus permite o sofrimento do mundo e do homem, particularmente do justo, é porque ele quer construir um mundo e um homem novos:
Porque assim diz o Senhor: Como eu trouxe sobre este povo todo este grande mal, assim eu trarei sobre ele todo o bem que lhes tenho prometido.
No filme A Paixão de Cristo de Mel Gibson, uma cena em particular me levou intensamente às
lágrimas: o cansaço, aliado a intensa dor das feridas e as horas de caminhada fizeram a cruz um
peso difícil de carregar: Jesus cai no chão e Maria, sua mãe, vem ajudá-lo a se levantar. Olhando
para ela, com o rosto ensanguentado e ferido ele diz: - Veja mãe, eu faço novas todas as coisas. É
preciso passarmos pela cruz, e até morrermos nela, para dela ressuscitarmos. Novo. Glorificado. É o Cristo ressuscitado e glorificado quem diz: ... eis que faço novas todas as coisas...
Diante da perseguição e do silêncio de Deus o salmista, vendo que questionar o tempo oportuno
pela qual Deus decidirá agir é inútil, olha para o passado, e nele, encontra o sentido de sua
vocação, reconhecendo por isso a supremacia de Deus sobre a sua vida, mesmo diante da dor ( da
mesma maneira como Sadraque, Mesaque e Abed-nego estavam dispostos a morrerem por sua fé, sem esperarem com isso qualquer providência de Deus em auxílio por exemplo ). É exatamente essa confiança que garante o livramento inesperado. Deus nos chama hoje à firmeza de propósito, à maturidade espiritual. Deus nos chama para sermos fiéis. Sempre. Deus nos chama para dependermos mais dele e menos de nós próprios. Reis com corações de pastores.
Que Deus nos ajude nesse compromisso.
† Diogo Alves da Conceição Santana
Em ocasião do Culto Jovem realizado na Igreja Evangélica Assembléia de Deus
Ministério dos remanescentes, no dia 7 de fevereiro de 2009.
Irmãos e irmãs,
É evidente em toda a autobiografia do rei Davi ( característica particular dos salmos ), a forte
ênfase por ele deixada, de atribuir suas virtudes de guerreiro, sua força e coragem, como oriundas exclusivamente de sua dependência a Deus1. É reconhecido por ele que o menor e o mais novo dos filhos de Jessé não nasceu para ser um homem de guerra. Seu pai lhe envia para o pasto, para cuidar das ovelhas, animais domesticados com facilidade. Como ele pôde vencer um gigante se com dificuldades suportava o peso de uma armadura e de uma espada? Como então teria conseguido defender suas ovelhas de um leão e um urso?... Porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração2. É o coração desse simples pastor de ovelhas que Deus quer que lidere a nação dos hebreus. Davi se torna um rei com o coração de um pastor. Por isso ele vence, e com isso ganha aliados.
Mas quando Deus se afasta, tal circunstância motiva sua lamentação, onde reconhece que não é
forte e nem corajoso sozinho:
Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que te alongas das palavras do meu bramido, e não me auxilias? Deus meu, eu clamo de dia, e tu não me ouves; de noite; e não tenho sossego ( vv.1-2 ).
O salmista se queixa da distância de Deus. O maior herói de Israel está sozinho. Ele não é mais
forte e nem corajoso, mas frágil e tímido, não é mais o rei, mas traz à Deus em oração o simples
pastor de ovelhas. Deixa transparecer do seu íntimo a crença de que Deus o abandonou. É
exatamente nesse tipo de situação, de fraqueza interior e dúvidas, o momento oportuno para o
surgimento de inimigos, que ele representa bem, utilizando-se de símbolos de animais reconhecidos por sua força ( o touro, o leão, o cão e o búfalo ). Ele se queixa de solidão espiritual e
da intensa perseguição dos seus inimigos. O salmista reconhece que sozinho ele não é um guerreiro, que é insiguinificante diante do poder de Deus e dos homens. Sabe que não pode vencer um ou outro. Ele não ousa lutar com Deus, mesmo por uma benção como fez Jacó, sabe que mesmo se a conseguisse, isso lhe trairia marcas dolorosas para o resto da vida. Ele não ousa lutar contra os seus perseguidores, porque acredita que sem Deus seus esforços seriam inúteis. Mesmo sofrendo, não chama Deus de injusto ou cruel, apenas insiste em conhecer os motivos pelos quais Deus lhe permite sofrer. Um pecado esquecido? Uma provação? Ele não sabe responder. O salmista questiona o tempo de Deus. O salmista julga que Deus demora, sinal de inquietação, de desespero, é por isso que ele clama intensamente. Exige urgência em sua causa, de uma solução rápida e eficiente de Deus sobre o seu problema. A exigência de velocidade nos empreendimentos humanos nos faz acreditar que podemos julgar os empreendimentos divinos com a mesma medida, o que é um erro.
Certa vez, assistindo ao filme O Exorcista: O Início, a doutora Sara em conversa com o cético ex
padre Maryn, ao comentar os abusos que sofreu durante a segunda guerra mundial pelos nazistas exclama em tom profético: É do inferno que temos a melhor visão de Deus. E a parábola do rico e do Lázaro é um exemplo disso: abrindo os seus olhos no Hades e de longe vendo Abraão e Lázaro, não se ouve de sua boca sequer um sussurro de blasfêmia contra Deus, pelo contrário, reconhece que está lá por consequência de sua vida, o que ele pede é misericórdia. É exatamente quando estamos embaixo que somente temos como alternativa olharmos para cima: Elevo os meus olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra.
O salmista olha para o passado, como testemunho da ação de Deus na história do seu povo6.
Todo aquele que teme o futuro vê no passado uma forma segura para lamentar o presente7. O
salmista lamenta o seu presente. Como consequência, seu futuro fica sem perspectiva. Tendo a
sensação comum de passar anônimo no mundo, de não ter história, cujo espírito retraído e tímido
é idêntico a de muitos homens na contemporaneidade. Um grito de dor é dirigido a Deus. Há muitos gritos. Uma multidão clama por socorro! :
Todo aquele que teme o futuro vê no passado uma forma segura para lamentar o presente7. O
salmista lamenta o seu presente. Como consequência, seu futuro fica sem perspectiva. Tendo a
sensação comum de passar anônimo no mundo, de não ter história, cujo espírito retraído e tímido
é idêntico a de muitos homens na contemporaneidade. Um grito de dor é dirigido a Deus. Há muitos gritos. Uma multidão clama por socorro! :
Antes de prosseguir em meu caminho, e lançar o meu olhar para frente uma vez mais, elevo só, minhas mãos a ti na direção de quem eu fujo. A ti, das profundezas do meu coração, tenho dedicado altares festivos para que, em cada momento, tua voz me pudesse chamar. Sobre esses altares estão gravados em fogo estas palavras: Ao Deus desconhecido. Teu, sou eu, embora até o presente tenha me associado aos sacrílegos. Teu, sou eu, não obstante os laços que me puxam para o abismo. Mesmo querendo fugir, sinto-me forçado a servi-lo. Eu quero te conhecer, desconhecido. Tu que me penetras a alma, e qual turbilhão invades a minha vida. Tu, o incompreensível, mas meu semelhante. Quero te conhecer. Quero servir só a ti. ( Nietzsche ).
Fruto de um mundo sem Deus. Deus está morto? O homem está. A criatura sem o criador não
tem sentido, e sem sentido, o mundo passa a ser conduzido pela barbárie: A máquina expeliu o
maquinista; está correndo cegamente no espaço ( Horkheimer ). O mundo inteiro começa a ter a
sensação de que está morrendo. E Deus parece que não ouve, não fala, não vê. Sidney
Garambone, escritor brasileiro, em seu livro Eu, Deus, escreve: A ausência é a forma mais bela de presença. A ausência promove o grito de socorro do aflito que clama pela presença de Deus. Sem ausência não há grito de socorro, não há dependência da criatura pelo criador.
O salmista recorda da sua vocação, do seu chamado, e com isso reconhece o Senhor como o Deus
da sua vida. Do seu tempo, da sua história, dos seus projetos. Reconhece quem Deus é, e quem é
ele: Porém tu és santo.../ Mas eu sou verme, e não homem9. Isto significa que há um pacto, uma
aliança, que pela circunstância exige fidelidade, literalmente, que exige fé. Não se trata porém, de
se ter a mesma perspectiva de Deus, neste Salmo Davi reconhece que por não compreender os
motivos pelos quais Deus lhe permite sofrer, não consegue enxergar o mesmo que Deus. Se trata
porém de, mesmo quando não vemos o que Deus vê, deixar que ele nos guie pela mão e nos leve
onde deseja. Sinal do amparo divino diante da nossa cegueira espiritual. Embora não sabemos ao
certo por onde podemos caminhar ( como Abraão que sai sem rumo para uma terra que não
conhece e o povo hebreu no deserto ) ele vai adiante de nós. Entretanto, a grandeza de Deus não consiste em ressuscitar vivos, mas mortos. A grandeza de Deus consiste em agir apenas no fim das nossas possibilidades. Esse é o milagre. A grandeza de Deus consiste em deixar que tudo seja destruído, para que um novo céu e uma nova terra nasçam. Promessa apenas para os que crêem nele. Quando Deus permite o sofrimento do mundo e do homem, particularmente do justo, é porque ele quer construir um mundo e um homem novos:
Porque assim diz o Senhor: Como eu trouxe sobre este povo todo este grande mal, assim eu trarei sobre ele todo o bem que lhes tenho prometido.
No filme A Paixão de Cristo de Mel Gibson, uma cena em particular me levou intensamente às
lágrimas: o cansaço, aliado a intensa dor das feridas e as horas de caminhada fizeram a cruz um
peso difícil de carregar: Jesus cai no chão e Maria, sua mãe, vem ajudá-lo a se levantar. Olhando
para ela, com o rosto ensanguentado e ferido ele diz: - Veja mãe, eu faço novas todas as coisas. É
preciso passarmos pela cruz, e até morrermos nela, para dela ressuscitarmos. Novo. Glorificado. É o Cristo ressuscitado e glorificado quem diz: ... eis que faço novas todas as coisas...
No final de seu salmo, Davi canta em agradecimento pela salvação, que no meio de intensa dor,
talvez não é esperada mais. Davi agradece e seu agradecimento se torna um testemunho para os
homens de seu tempo, os povos ao redor e as gerações futuras do seu povo. Ele quer evidenciar
que a sua vida não está abandonada a própria sorte, de que existe a providência de Deus.
Providência significa estar sempre ao alcance do olhar, da misericórdia, da presença e da ação do
nosso criador. E para tanto é preciso reconhecermos nossa condição de criatura: nascidos de
Deus. Filhos dele. Sendo alvo da providência divina, toma consciência de que também precisa ser
dela um instrumento.
talvez não é esperada mais. Davi agradece e seu agradecimento se torna um testemunho para os
homens de seu tempo, os povos ao redor e as gerações futuras do seu povo. Ele quer evidenciar
que a sua vida não está abandonada a própria sorte, de que existe a providência de Deus.
Providência significa estar sempre ao alcance do olhar, da misericórdia, da presença e da ação do
nosso criador. E para tanto é preciso reconhecermos nossa condição de criatura: nascidos de
Deus. Filhos dele. Sendo alvo da providência divina, toma consciência de que também precisa ser
dela um instrumento.
Diante da perseguição e do silêncio de Deus o salmista, vendo que questionar o tempo oportuno
pela qual Deus decidirá agir é inútil, olha para o passado, e nele, encontra o sentido de sua
vocação, reconhecendo por isso a supremacia de Deus sobre a sua vida, mesmo diante da dor ( da
mesma maneira como Sadraque, Mesaque e Abed-nego estavam dispostos a morrerem por sua fé, sem esperarem com isso qualquer providência de Deus em auxílio por exemplo ). É exatamente essa confiança que garante o livramento inesperado. Deus nos chama hoje à firmeza de propósito, à maturidade espiritual. Deus nos chama para sermos fiéis. Sempre. Deus nos chama para dependermos mais dele e menos de nós próprios. Reis com corações de pastores.
Que Deus nos ajude nesse compromisso.
† Diogo Alves da Conceição Santana
Uma Carta por Benjamin
Deixei explícito entre alguns de meus escritos que não gosto de ler ficção. Interessa-me obsessivamente a análise da realidade fria, sem rodeios. Acabei por escrever uma, e descobrindo que as vezes, escrevendo uma mentira digo mais verdades do que realmente gostaria de dizer. Tenho a mesma impressão com o livro Uma Carta Por Benjamin de Jana Lauxen, publicado pela editora multifoco.
Apático, anêmico, anônimo. Imerso na multidão e escondido nela. Vegetando, não vivendo, enterrado no mundo: cemitério de almas, mais do que de corpos. Acomodado, indiferente as existências que transitam ao seu redor, como também a sua própria. Imediatista, materialista, sem vida e sem futuro. Algumas almas morrem antes de seus corpos e Benjamin era uma delas. Mas alguém o matou, e foram eles, os maus amigos e uma infinidade de amores perdidos. De tanto perder amores Benjamin perdeu o coração. Nada mais lhe impressionava, nada mais lhe fazia brilhar os olhos.
De repente tudo mudou: algumas cartas enviadas por uma desconhecida chamada Madalena lhe convenceram a sair da comodidade de sua caverna e olhar o mundo, as pessoas, as coisas, sua nação. A politicagem no mundo das conspirações criminosas ( ou será que é o contrário?). Benjamin está indo longe demais... Caminhando no escuro não sabe mais onde os seus passos o levam, não sabe onde Madalena o está levando, contudo, continua caminhando.
Uma Carta Por Benjamin consiste numa estória sobre subjetividades anônimas: Benjamin e Madalena. Benjamin é desconhecido do mundo, dos amigos, da família, dos amores da vida. Madalena é desconhecida por Benjamin. Essas subjetividades quando se encontram por meio de cartas, mudam a vida um do outro. Mudam o destino de um país. Uma Carta Por Benjamin fala do anonimato presente em certas formas de heroísmo diário que ninguém vê, embora corriqueiramente passem diante dos nossos olhos, assim como, da importância que seus autores, sem nome (e dentre eles estão cada um de nós) possuem para o estabelecimento do futuro. O mundo está cheio de heróis. Eles não voam, não conseguem parar balas de aço e na possuem visão de raio x, são simples seres humanos. É exatamente isso que nos surpreende: como seres tão frágeis podem ao mesmo tempo ser tão fortes? E o que Jana Lauxen nos propõe a reflexão na vida do pacato Benjamin.
Diogo Santana.
Escritor e teólogo, autor dos livros Biografia Anônima (Editora Corifeu – 2009), O Deus de Carne: Uma Introdução a Cristologia (Editora Virtualbooks – 2009) e Fé e Anarquia Cristã (Editora Corifeu – 2007).
Apático, anêmico, anônimo. Imerso na multidão e escondido nela. Vegetando, não vivendo, enterrado no mundo: cemitério de almas, mais do que de corpos. Acomodado, indiferente as existências que transitam ao seu redor, como também a sua própria. Imediatista, materialista, sem vida e sem futuro. Algumas almas morrem antes de seus corpos e Benjamin era uma delas. Mas alguém o matou, e foram eles, os maus amigos e uma infinidade de amores perdidos. De tanto perder amores Benjamin perdeu o coração. Nada mais lhe impressionava, nada mais lhe fazia brilhar os olhos.
De repente tudo mudou: algumas cartas enviadas por uma desconhecida chamada Madalena lhe convenceram a sair da comodidade de sua caverna e olhar o mundo, as pessoas, as coisas, sua nação. A politicagem no mundo das conspirações criminosas ( ou será que é o contrário?). Benjamin está indo longe demais... Caminhando no escuro não sabe mais onde os seus passos o levam, não sabe onde Madalena o está levando, contudo, continua caminhando.
Uma Carta Por Benjamin consiste numa estória sobre subjetividades anônimas: Benjamin e Madalena. Benjamin é desconhecido do mundo, dos amigos, da família, dos amores da vida. Madalena é desconhecida por Benjamin. Essas subjetividades quando se encontram por meio de cartas, mudam a vida um do outro. Mudam o destino de um país. Uma Carta Por Benjamin fala do anonimato presente em certas formas de heroísmo diário que ninguém vê, embora corriqueiramente passem diante dos nossos olhos, assim como, da importância que seus autores, sem nome (e dentre eles estão cada um de nós) possuem para o estabelecimento do futuro. O mundo está cheio de heróis. Eles não voam, não conseguem parar balas de aço e na possuem visão de raio x, são simples seres humanos. É exatamente isso que nos surpreende: como seres tão frágeis podem ao mesmo tempo ser tão fortes? E o que Jana Lauxen nos propõe a reflexão na vida do pacato Benjamin.
Diogo Santana.
Escritor e teólogo, autor dos livros Biografia Anônima (Editora Corifeu – 2009), O Deus de Carne: Uma Introdução a Cristologia (Editora Virtualbooks – 2009) e Fé e Anarquia Cristã (Editora Corifeu – 2007).
domingo, 20 de setembro de 2009
Comentário Sobre o Livro O Deus de Carne
" O Livro "O Deus de Carne", que evita o "teologues", tange todos os temas fundamentais da cristologia, abordando o cáustico assunto em uma linguagem acessível a todos, sem deixar de lado a seriedade e formalidade que o assunto exige.Diogo Alves é um jovem dedicado e estudioso, formado nos temas do Cristianismo desde a mais tenra idade, aprofundando e associando os mesmos à sua formação filosófica, com uma redação fluida e cativante, envolvendo o leitor nas questões teológicas mais significativas da cristologia.Como o título indica, procura refletir sobre esta aparente contradição cristológica: Como Deus, que é Espírito, pode ser encontrado em Carne na pessoa de Jesus de Nazaré?Assim, este livro, em bela e boa redação, oferece ao leitor uma introdução ao tema, ajudando aqueles que não conhecem o intrincado caminho da cristologia a conhecê-lo, com a virtude de voltar o pensamento da matéria sobre si mesma para chegar ao seu conteúdo fundamental.Rev. Carlos Alberto Chaves Fernandes ( Pastor da Congregação Anglicana da Santíssima Trindade em Copacabana ). -
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Orações de Soren Kierkegaard
" Pai Celestial,Não queremos que nossos pecados estejam contra nós,e sim queremos nós estar contra os nossos pecados.De maneira que cada pensamento que tenhamos de Ti, quando estes se despertam em nossa alma, seja capaz de recordarnos não dos desvios nos quaistemos estados extraviados e perdidos, mas do caminho de misericórdia no qual nos encontraste e nos salvaste por Tua Graça. "
Amém!
Pai celeste! No mundo cá de fora, um é forte, outro é fraco. O forte - quem sabe - envaidece-se com a sua força; o débil suspira e, ai de mim, torna-se invejoso. Mas aqui, bem no interior da tua Igreja, todos somos fracos: aqui, perante tua presença - tu és o poderoso, só tu és o forte”.
terça-feira, 21 de julho de 2009
Prefácio de Biografia Anônima
Quando fui convidado para prefaciar este livro achei que não fosse capaz e, aproveitando que estamos sozinhos, confesso ainda não me achar. No entanto, não quis fazer essa desfeita a um amigo tão querido, pois tenho acompanhado a caminhada de Diogo Santana, quem já me proporcionou leituras fascinantes.
Neste texto me sinto convidado a assumir meu próprio eu, a me reconhecer diante de mim e dos outros. A emocionante história de Biografia anônima me ensina a comover-me com a minha própria. No entanto a ausência de maniqueísmo me faz ver que não se trata da história de alguém em especial, mas do humano; esse ser complexo que povoa esta terra, que se confunde com deuses e demônios; que hora destrói, mas no instante seguinte cria. É um equívoco dissociar nossas ações de seus autores, intitular se espirituais ou demoníacas quando, no muito, são meramente humanas. Outro equívoco é condenar o humano ao fracasso, pois o próprio Deus não o condenou. Por isso nos deixou sua palavra – a fé palavra – que se revela fonte de esperança ao humano, que enfraqueceu a si mesmo.
Fé, ingrediente indispensável para a receita da vida. Pois como já disse o teólogo ter fé é saltar no escuro, mas o que ele esqueceu de nos dizer é que caminhamos o tempo todo no escuro e, nunca sabemos onde poremos o pé no próximo passo. A verdade é que só os corajosos, ou inconseqüentes, às vezes saltam. E se saltam é porque acreditam ou que há um chão para detê-los, ou que suportam a queda. Admiro os que saltam, pela fé ou pela loucura; porque em nada se diferem, pois foi o apóstolo quem disse que Deus usa a loucura a fim de confundir a sabedoria. Pobre sabedoria, soberba e cheia de si mesma, a mais louca de todas.
Perigosa é a cultura do saber e do cientificismo que forma cirurgiões que aprendem, desde cedo, a dissecar a vida. Assim, separamos o trabalho da família, a sexualidade do amor, a fé do cotidiano acreditando que esta fé pode ser muito útil nas celebrações de domingo, mas que nada tem haver com o dia-a-dia. No entanto, a cultura da dissecação contraria a palavra de Deus que nos ensina a atar a fé/palavra ao punho e à testa, para que esta não seja por nós esquecida.
Em protesto a cultura da dissecação este texto propõe uma análise do humano a partir do próprio humano.
Não há outra maneira de falar de fé, moral, política, loucura, liberdade e amizade se não pela beleza da própria vida; do que se vive, do que se vê, do que se sente. E é com beleza que Diogo Santana nos propõe essa leitura; beleza esta que não se extrai das estruturas sociais, mas das relações humanas. Beleza que o humano recebe de seu criador.
Ao iniciar essa leitura me senti seqüestrado. Seqüestrado por mim mesmo. Pois Biografia anônima é a história de outro alguém, mas poderia muito bem ser a do próprio Diogo, ou a minha, ou a sua.
Jeferson André, Pastor adjunto da Igreja Batista da Redenção em Tomaz Coelho, Rio de Janeiro.
Neste texto me sinto convidado a assumir meu próprio eu, a me reconhecer diante de mim e dos outros. A emocionante história de Biografia anônima me ensina a comover-me com a minha própria. No entanto a ausência de maniqueísmo me faz ver que não se trata da história de alguém em especial, mas do humano; esse ser complexo que povoa esta terra, que se confunde com deuses e demônios; que hora destrói, mas no instante seguinte cria. É um equívoco dissociar nossas ações de seus autores, intitular se espirituais ou demoníacas quando, no muito, são meramente humanas. Outro equívoco é condenar o humano ao fracasso, pois o próprio Deus não o condenou. Por isso nos deixou sua palavra – a fé palavra – que se revela fonte de esperança ao humano, que enfraqueceu a si mesmo.
Fé, ingrediente indispensável para a receita da vida. Pois como já disse o teólogo ter fé é saltar no escuro, mas o que ele esqueceu de nos dizer é que caminhamos o tempo todo no escuro e, nunca sabemos onde poremos o pé no próximo passo. A verdade é que só os corajosos, ou inconseqüentes, às vezes saltam. E se saltam é porque acreditam ou que há um chão para detê-los, ou que suportam a queda. Admiro os que saltam, pela fé ou pela loucura; porque em nada se diferem, pois foi o apóstolo quem disse que Deus usa a loucura a fim de confundir a sabedoria. Pobre sabedoria, soberba e cheia de si mesma, a mais louca de todas.
Perigosa é a cultura do saber e do cientificismo que forma cirurgiões que aprendem, desde cedo, a dissecar a vida. Assim, separamos o trabalho da família, a sexualidade do amor, a fé do cotidiano acreditando que esta fé pode ser muito útil nas celebrações de domingo, mas que nada tem haver com o dia-a-dia. No entanto, a cultura da dissecação contraria a palavra de Deus que nos ensina a atar a fé/palavra ao punho e à testa, para que esta não seja por nós esquecida.
Em protesto a cultura da dissecação este texto propõe uma análise do humano a partir do próprio humano.
Não há outra maneira de falar de fé, moral, política, loucura, liberdade e amizade se não pela beleza da própria vida; do que se vive, do que se vê, do que se sente. E é com beleza que Diogo Santana nos propõe essa leitura; beleza esta que não se extrai das estruturas sociais, mas das relações humanas. Beleza que o humano recebe de seu criador.
Ao iniciar essa leitura me senti seqüestrado. Seqüestrado por mim mesmo. Pois Biografia anônima é a história de outro alguém, mas poderia muito bem ser a do próprio Diogo, ou a minha, ou a sua.
Jeferson André, Pastor adjunto da Igreja Batista da Redenção em Tomaz Coelho, Rio de Janeiro.
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