segunda-feira, 15 de março de 2010

Sobre o Exercício da Pregação

Se eu pregar o medo, levarei às pessoas o fardo pesado da imagem de um Deus rancoroso e irado, e temerosos por sua presença furiosa, não hesitarão em fazer todo o possível – até que se exumam as últimas gotas de sangue e suor; até incharem os joelhos e o corpo prostrado não ter mais força para se erguer do chão, para que enfim a ira da divindade se aplaque. Imagem de um Deus pagão, de prazos esgotados, onde apenas resta o esforço para que de maneira improvisada se ajustem à sua vontade.

Se eu pregar a esperança, levarei às pessoas ânimo suficiente para que esperem o tempo oportuno para a salvação de um Deus bondoso, contudo, que ensina pelo sofrimento, torne o homem maduro o suficiente para que enfrente a vida com a destreza de um equilibrista na corda bamba. Eu lhes darei esperança para que suportem mudos todo o sofrimento do mundo, e quem sabe, até mesmo os inspirarei a enfrentar até a morte! Quietos e tímidos, se tornarão homens sem nome, perdidos numa multidão apática e sonolenta, que assiste o sermão dominical matutino e terminado o culto tudo retorne como sempre foi. A força moral de um único homem que insiste em ser livre, é maior do que uma multidão de escravos silenciosos. Convenhamos: um Deus que encobre os nossos erros por pura gratuidade, e sem participação da nossa vontade, não necessita de veneração. É como se ele não existisse. Ele se nega a provar a sua existência no mundo, mas apenas fora dele.

O que irei pregar?


Quero pregar sobre um Deus justo, e que por tanto, se ira, mas também ama. E por isso ele é parecido conosco. Melhor dizendo: que nós somos parecidos com ele. Que é humano. Deus é humano, a medida em que é nosso criador. Criador do humano, ele é o primeiro deles. Sendo humano ele pode se tornar homem, Jesus.

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