sábado, 8 de novembro de 2008

O Poder da Educação

Não existe melhor exemplo para definir o comportamento da maioria do homens diante do mundo em que vivem, do mundo que experimentam todos os dias, do que o da criança: o homem é uma criança, cuja altura, força e todos os demais caracteres de um adulto, paradoxalmente se antagonizam ao pequeno tamanho do seu coração, de sua alma e de sua intensa fraqueza e fragilidade diante dos poderes que o superam e lhe impõe submissão. Nenhuma criança, por mais adulta que seja, terá por essa via condições de ser o super-herói do seu mundo, todavia, passará a vida inteira sonhando com um através de seus brinquedos: sua bola de futebol, sua boneca, sua pipa, seu revolucionário político, seu cantor favorito, seu ator ou atriz de tv, seu grande amor e etc. Mas essa criança cujos olhos e o sorriso demonstram uma esperança que nunca chega, cresce e toda criança que cresce brincando, permanece brincando a vida inteira.
A vida começa a conhecer o colapso quando o homem quer viver brincando nela, brincando de viver. A vida não é um brinquedo, tampouco uma brincadeira, sendo assim, as crianças sempre serão delas excluídas, princialmente as crianças de coração. Bem falou Jesus sobre as crianças quando disse que ... dos tais é o reino dos céus ( Lc. 18.16 ). No reino dos homens, adúltos, toda criança é excluída. Para toda criança de coração é necessário um coração maior, que se leve e cresça até se tornar uma alma maior que o mundo, e por ser maior não está sujeita a submissão e toda exclusão que o mundo lhe impõe, sendo forte o suficiente para reagir contra todos os poderes que impedem o homem de crescer. A educação é essa força que eleva o cooração e o torna forte contra toda a apatia, inércia e estagnação dos homens que não passam de crianças. A educação é uma força de reação contra a sociedade e os homens do presente, um presente que será sepultado pelo constante desenvolvimento social. O homem que não se educa para o futuro será sepultado com o mundo presente em que vive, pois nenhuma criança costuma saobreviver para o futuro.
Se educar é um ato de se ajustar ao futuro, muitos homens param por ai, como se o futuro já tivesse para eles chegado, conseguem se tornar adultos, todavia, envelhecem depressa e ficam caducos: o homem se torna um velho, atingindo maturidade sificiente, que apenas lhe resta o declínio, e quando isso acontece, ele já está preparado para tombar e cair, encontrando assim, o seu inevitável destino: a morte. Tanto a criança quanto o velho estão destinados a morrer, todavia, um morre por não ter um futuro e o outro, por acreditar que já o alcançou: o futuro não chega nunca , por isso ele é agora mesmo. Fazer do futuro hoje é o objetivo da educação, fazendo com que o homem esteja à frente do seu tempo no seu tempo. Nascemos crianças, e o mundo, impondo-se muitas vezes contra a nossa própria existência, nos impede de cresce nos forçando a sermos crianças a vida inteira até a morte. Uma reação é portanto uma necessidade para todo aquele que ousa com o seu pequeno coração alcançar o seu futuro.
Entretanto tudo é uma questão de intensidade, de paixão, pela qual o coração se dispõe a lutar contra tudo aquilo que o diminui: o mundo é um campo de batalha e não devemos nos esquecer disso; a questão é : até onde eu quero chegar ? Existe algum limite para minha paixão? Sou eu quem move o mundo ou é o mundo que me move?

sábado, 18 de outubro de 2008

Curso Sobre Existencialismo Cristão

O existencialismo emerge na contemporaneidade como um testemunho autobiográfico de nossa geração sobre sua desesperada e permanente crise de identidade. Sendo assim, nasce sempre de uma profunda experiência de tensão vivida por seus mentores intelectuais, seja na coletividade ou experimentada solitariamente no íntimo. O existencialismo nada mais significa do que uma maneira formal, crítica e até poética e romanceada onde o existente fala pelo mundo em crise: é portanto um grito por socorro onde convergem a descrição de um intenso estado de miséria e a esperança em transcendê-lo, correspondendo por isso, ao discurso cristão e valor escatológico dos evangelhos: onde a ressurreição vence a cruz, a vida vence a morte, onde nasce um novo começo depois do fim e etc. Não é sem razão que sob tais circunstâncias o existencialismo nasça como uma reflexão crítica, teológica e cristã, sobre um mundo onde os paradigmas fornecidos pelo secularismo entram em colapso. É exatamente sobre essa falência do secularismo, que o existencialismo, o especificadamente cristão, reage.
E para tanto, promove através de seus grandes nomes, uma releitura de toda a tradição cristã e seu legado crítico para a atualidade. O curso tem como objetivo expor de uma maneira breve e suscinta todo o processo de formação histórica, ideológica e metodológica que norteia as filosofias da existência, particularmente as cristãs: dentre elas o pensamento de Kierkegaard, Karl Jaspers e Gabriel Macel, seu impacto na reflexão teológica e seu debate com a contemporaneidade.
Informações :
diogocsantana@bol.com.br

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Declaração Teológica de Barmen

Tese I – Jesus Cristo, tal qual é testemunhado nas Sagradas Escrituras, é a única Palavra de Deus – a qual devemos ouvir e nela confiar e a ela obedecer tanto na vida como na morte.

Tese II – Assim como Jesus Cristo é a garantia de Deus para o perdão de todos os nossos pecados, do mesmo modo e com a mesma seriedade ele também é a reivindicação mais poderosa de Deus sobre toda nossa vida; por intermédio dele experimentamos uma libertação feliz das amarras ímpias deste mundo, para que possamos prestar um serviço livre e agradecido às suas criaturas.

Tese III – A Igreja cristã é a comunhão dos irmãos, na qual Jesus Cristo, em Palavra e sacramentos, através do Espírito Santo, age de uma maneira presente como Senhor. Na condição de Igreja de pecadores agraciados, ela tem a tarefa de testemunhar em meio a um mundo pecador, tanto com sua fé como com sua obediência, tanto com sua mensagem como com sua ordem, que ela é somente propriedade do Senhor, que vive e pretende viver somente de seu conforto e a partir de sua orientação na expectativa de sua volta.

Tese IV – Os diversos ofícios existentes na Igreja não estabelecem o domínio de uns sobre os outros, porém fundamentam o exercício do ministério confiado e destinado a toda a comunidade.

Tese V – As Sagradas Escrituras testemunham que o Estado, por ordem divina, tem a tarefa de, neste mundo ainda não redimido, no qual também se encontra a Igreja, providenciar a justiça e a paz. O Estado estará se desincumbindo da tarefa e para a tal poderá fazer ameaças e o uso da força de acordo com o bom senso e a capacidade humana. A Igreja reconhece o benefício dessa ordem divina com gratidão e reverência a Deus. Ela evoca o Reino de Deus, os mandamentos e a justiça de Deus, proclamando assim a responsabilidade de regente e regidos. Ela confia e obedece ao poder da Palavra, mediante a qual Deus sustenta todas as coisas.

Tese VI – A tarefa da Igreja, sobre a qual se fundamenta a sua liberdade, consiste em pregar a todos os povos a mensagem da graça libertadora de Deus em Cristo, e por essa razão está a serviço de sua Palavra e obra, mediante a pregação e sacramentos.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Declara%C3%A7%C3%A3o_Teol%C3%B3gica_de_Barmen

Como Cristo Julga o Cristianismo Oficial - em espanhol

KIERKEGAARD INEDITO

El último año de vida de Søren Kierkegaard, 1855, estuvo signado por su decisión de salir a combatir públicamente contra la cristiandad, encarnada por el establishment oficial de la iglesia y el rebaño de los que él llamaba cristianos domingueros. La singularidad del combate kierkegaardiano radica en que, a diferencia de otras duras críticas a la cristiandad que podemos denominar iluministas (contándose las de Marx y Nietzche entre las más célebres), el pensador danés habla desde el interior de la iglesia militante, contra la iglesia establecida. Toda la obra de Kierkegaard fue encaminándose indefectiblemente hacia el momento en que tuvo que denunciar el escándalo que significa que quienes se dicen seguidores de Cristo sean los que más hacen por que su doctrina quede sepultada debajo de una criminal hipocresía.
Se cuenta que todos los domingos, durante sus últimos meses de vida, Kierkegaard se paraba frente a la iglesia a leer en voz alta las flamígeras palabras publicadas en su revista El Instante (nueve ediciones entre mayo y septiembre de 1855, más un décimo número que no llegó a imprimirse, a causa de su repentina muerte): "La blasfemia más tremenda es la acometida por la 'cristiandad': transformar al Dios del espíritu en un disparate irrisorio; y el culto menos espiritual, menos espiritual que todo lo que hay y que jamás hubo en el paganismo, menos espiritual que adorar como dios a una piedra, un buey, un insecto, menos espiritual que cualquier otra cosa, es: adorar bajo el nombre de Dios a ¡semejante necedad!" (El Instante Nº 2, 4 de junio de 1855, Copenhague).
El que sigue es un texto de junio de 1855 publicado entre el 2º y el 3º número de El Instante, que se presenta por primera vez en lengua castellana en una traducción realizada por un equipo de traducción que se reúne semanalmente en la Iglesia Dinamarquesa en Buenos Aires, y que integran el pastor Andrés Roberto Albertsen, María José Binetti, el profesor Oscar Alberto Cuervo, la licenciada Patricia Dip, el licenciado Héctor Fenoglio, y Pedro Gorsd.

Cómo juzga Cristo el cristianismo oficial
Junio de 1855

Podría parecer extraño que sólo ahora avance sobre esto, pues el juicio de Cristo debería ser decisivo, no importa lo inoportuno que resulte para el gremio de los estafadores clericales que se han apoderado de la firma "Jesucristo" y bajo el nombre de cristianismo han hecho negocios brillantes.

Sin embargo, no es sin razón que sólo ahora me refiera a esta cuestión decisiva; y a quien haya seguido con atención toda mi obra de escritor, de ninguna manera le habrá pasado desapercibido que hay un cierto método en el modo como procedo, que se caracteriza tanto por lo que digo, que todo esto de la "cristiandad" es un asunto criminal, equivalente a lo que suele llamarse con el nombre de falsedad, estafa, sólo que aquí es la religión que se usa así, como por el hecho de que realmente soy, como yo mismo lo digo, un talento policial.

Fíjate ahora si puedes seguir los pasos del caso. Yo empecé haciéndome pasar por poeta, apuntando maliciosamente a lo que pensaba en relación con el cristianismo oficial, que la diferencia entre el librepensador y el cristianismo oficial es que el librepensador es un hombre sincero, que sin vueltas enseña que el cristianismo es fábula, poesía; por el contrario, el cristianismo oficial es un falsificador, que solemnemente asegura que el cristianismo es otra cosa, solemnemente se empeña contra el librepensador, y así oculta que en realidad él convierte el cristianismo en poesía, suprime el seguimiento de Cristo, de manera que sólo por la imaginación nos relacionamos con el modelo, pero él mismo vive bajo determinaciones totalmente distintas, lo cual es relacionarse poeticamente con el cristianismo o transformarlo en poesía, no más comprometedor que lo que es la poesía; y por último, el resultado es que directamente se desecha el modelo y se deja que aquello que uno es, la mediocridad, pase a ser el ideal.

Bajo el título de poeta saqué a la luz algunos ideales; expuse aquello con que los 1000 funcionarios reales están comprometidos por juramento. Y estos buenos hombres no se dieron cuenta de nada, permanecieron totalmente tranquilos, hasta ese punto todo era, cristianamente, falto de espíritu y mundanidad; estos buenos hombres no tenían idea de que se ocultaba algo detrás de este poeta - que mi modo de proceder era el de la inteligencia policial, para que los implicados estuvieran tranquilos, y la policia tuviera ocasión de formarse una idea más profunda del caso.

Así pasó un tiempo. Incluso me llevaba bien con estos hombres sujetos a juramento - y logré, con toda tranquilidad, dos cosas: instalar los ideales y conocer a aquellos con los que me las tengo que ver.

Pero al último estos buenos hombres se impacientaron con este poeta; se les trasformó en un acoso. Esto sucedió con el artículo contra el obispo Martensen referido al obispo Mynster[1]. Totalmente tranquilos, sí, totalmente tranquilos como estaban hicieron hincapié ahora (como podrá recordarse de aquel tiempo), en que "la escala con que se los medía era demasiado grande", etc.

Entonces este poeta se transformó repentinamente - si me permiten la expresión, arrojó la guitarra, y tomó un libro que se llama "el Nuevo Testamento de nuestro Señor y Salvador Jesucristo" , y con -sí, con mirada policial- interpeló a estos buenos maestros sujetos a juramento, " testigos de la verdad" sobre lo siguiente: ¿acaso no es este el libro con el que están comprometidos por juramento, este libro cuya escala es bastante más grande que la usada por el poeta?

Desde ese instante, como se sabe, se hizo silencio. Tan listos como se creían, tan dispuestos a reclamar, mientras consideraran no sólo que quedaban a salvo, sino que podían hacerse los importantes sosteniendo: "no es más que un poeta, un exaltado con sus ideales, la escala es demasiado grande"; así de silenciosos se quedaron desde el instante en que este libro y el juramento entraron en juego. Tal como sucede en los procedimientos policiales. Primero se tranquiliza al implicado; y a propósito, si un agente policial posee todos los otros dones pero no es virtuoso en el arte de tranquilizar, no es un "verdadero talento policial". Una vez tranquilizado, el implicado invierte los roles: él, justamente él es el hombre honrado y claramente parece que fuera el agente policial quien es puesto en un brete. Pero cuando éste, tranquilizando de esta forma, se entera de lo que desea saber, cambia su modo de proceder, va directo al grano - y así de repente el implicado se queda en silencio, se muerde el labio y piensa: qué historia maldita.
Pues bien, tomé el Nuevo Testamento, me permití respetuosamente recordar que estos venerables testigos de la verdad por juramento están comprometidos con el Nuevo Testamento. Y entonces se hizo silencio. ¿No fue esto extraño?

Entretanto consideré que lo más correcto, en lo posible, era mantenerlos en la incertidumbre por un tiempo más acerca de lo bien informado que estoy, y hasta qué punto tengo al Nuevo Testamento de mi parte, lo que también estoy consiguiendo, pero por lo que no se me ocurriría jactarme.

Hablé entonces en mi propio nombre y cada vez más decisivamente, dado que veía que se seguía desdeñando la imputación por el hecho de que yo al principio presentara la situación de manera tan favorable para la parte contraria como me resultaba posible; y finalmente asumí decir en mi propio nombre que es una culpa, una gran culpa, participar del culto divino público, tal como es ahora. Fue en mi propio nombre; así quedó claro que ya no podrían librarse de mí con la excusa de que soy un poeta y que son los otros quienes representan la verdad. Pero siempre es un poco aliviante que hable en mi nombre; y así conseguí, por este efecto aliviante, tranquilizar un poco a la parte contraria y tener la oportunidad de conocerlos un poco mejor; saber si tenían la intención de empecinarse y no hacer caso de la imputación; pues la conciencia debe haber golpeado a estos hombres sujetos a juramento al escuchar esta palabra que todo lo cambia: es culpa, una gran culpa, participar del culto divino tal como es ahora; pues éste está en las antípodas de ser culto divino.

Pero, como fue dicho, lo aliviante era que hablaba en mi propio nombre. Pues aun cuando Dios sepa que he hablado verdaderamente y como debía hablar, y aun cuando lo que he dicho fuera verdadero y debiera decirse, incluso si no hubiera ninguna palabra de Cristo mismo, la cuestión es que siempre es bueno que por el Nuevo Testamento sepamos cómo Cristo juzga al cristianismo oficial.

Y lo sabemos por el Nuevo Testamento; su juicio se encuentra ahí - pero claro, estoy totalmente convencido de que, seas quien seas, si no conoces otra cosa acerca de lo que es el cristianismo que lo que surge del sermón dominical de los "testigos de la verdad", entonces año tras año puedes ir a tres iglesias cada domingo, escuchar -en términos generales- a cualquiera de los funcionarios reales, y nunca habrás escuchado las palabras de Cristo a las que estoy aludiendo. Los testigos de la verdad piensan presumiblemente así: así como el dicho dice "no se debe hablar de la soga en la casa del ahorcado", así también sería una locura que en las iglesias se citen aquellas palabras de la Palabra de Dios que testifican al cielo contra toda la payasada del pastor. Podría estar tentado de poner la siguiente exigencia que, aunque barata y modesta, es el único castigo que les deseo a los pastores: que se elijan determinados pasajes del Nuevo Testamento, y que el pastor se comprometa a leerlos en voz alta a la congregación. Naturalmente con la condición de que no sea como es uso y costumbre, que el pastor después de leer un pasaje así del Nuevo Testamento, deja a un lado el Nuevo Testamento para dar seguidamente su propia "interpretación" de lo leído. No, muchas gracias. No, lo que yo estaría tentado de proponer es el siguiente servicio divino: la congregación se reúne; se reza una oración en la puerta de la iglesia; se canta un himno; entonces el pastor sube al púlpito, toma el Nuevo Testamento, nombra el nombre de Dios y lee a la congregación el pasaje que corresponde en voz alta y clara - después deberá callarse y permanecer 5 minutos en silencio, quedándose en el púlpito, y sólo entonces podrá irse. Esto me parecería extremadamente provechoso. Intentar que el pastor se ponga colorado no se me ocurriría; pues a quien, con la conciencia de querer entender por cristianismo lo que él entiende por cristianismo, ha podido prestar juramento por el Nuevo Testamento sin ponerse colorado, a él no será fácil ponerlo colorado; y por otro lado se supone que para ser pastor oficial antes que nada es necesario que uno haya superado los infantilismos de la adolescencia y la inocencia, como ponerse colorado y cosas así. Pero supongo que la congregación sí se pondrá colorada por el pastor.

Y ahora a las palabras de Cristo a que me refiero.

Se encuentran en Mt 23, 29-33; Lc 11,47-48, y dicen así[2]:

Mt 23,29-33. 29) ¡Ay de ustedes, escribas y fariseos hipócritas, que construyen los sepulcros de los profetas y adornan las tumbas de los justos, 30) diciendo: "Si hubiéramos vivido en el tiempo de nuestros padres, no nos hubiéramos unido a ellos para derramar la sangre de los profetas"! 31) De esa manera atestiguan contra ustedes mismos que son hijos de los que mataron a los profetas. 32) ¡Colmen entonces la medida de sus padres! 33) ¡Serpientes, raza de víboras! ¿Cómo podrán escapar a la condenación de la Gehena?

Lc 11,47-48. 47) ¡Ay de ustedes, que construyen los sepulcros de los profetas, a quienes sus mismos padres han matado! 48) Así se convierten en testigos y aprueban los actos de sus padres: ellos los mataron y ustedes les construyen sepulcros.

¿Qué es, pues, la "cristiandad"? ¿No es la mayor tentativa posible encaminada a rendir culto a Dios construyendo los sepulcros de los profetas y adornando las tumbas de los justos y diciendo: "Si hubiéramos vivido en el tiempo de nuestros padres, no nos hubiéramos unido a ellos para derramar la sangre de los profetas", en lugar de seguir a Cristo, como él lo ha exigido y sufrir por la doctrina?

Sobre esta clase de culto divino he expresado que, comparado con el cristianismo del Nuevo Testamento, esto es jugar al cristianismo. La expresión es totalmente verdadera y plenamente característica. Porque, ¿qué es jugar, cuando se piensa en cómo debe ser entendida la palabra en este contexto? Es imitar, simular un peligro donde no hay ningún peligro; y así, lo que se busca es mantener la ilusión de que el peligro está. Así juegan los soldados a la guerra en el ejido; no hay ningún peligro, pero se actúa como si existiera, y el arte consiste precisamente en hacer todo ilusivamente, como si fuera una cuestión de vida o muerte. Y así se juega al cristianismo en la "cristiandad". Artistas dramáticamente vestidos comparecen en construcciones artísticas -no hay en verdad ningún peligro, es más, el maestro es funcionario real, que asciende gradualmente y hace carrera- y ahora juega dramáticamente al cristianismo, en resumen, hace comedia; le discursea acerca del renunciamiento, pero él mismo asciende gradualmente; le enseña a despreciar títulos y rangos mundanos, pero él mismo hace carrera; describe a los magníficos ("los profetas") que fueron asesinados, y la cantinela es siempre la misma: si hubiéramos vivido en el tiempo de nuestros padres, no nos habríamos unido a ellos para derramar la sangre de los profetas - nosotros, que construimos sus sepulcros y adornamos sus tumbas. Es decir que ni siquiera se quiere ser (como constante, encarecida y suplicantemente lo he propuesto) al menos tan honesto como para reconocer que no se es en absoluto mejor que quienes mataron a los profetas; no, se quiere aprovechar la circunstancia de que no se es contemporáneo con ellos para creerse mucho, mucho mejores que aquellos que los mataron, seres totalmente distintos de aquellos inhumanos -porque es obvio que lo somos, dado que construimos los sepulcros de los tan injustamente asesinados y adornamos sus tumbas.

Sin embargo la expresión "jugar al cristianismo", por más característica que sea, no puede ser usada por quien tiene autoridad. Este se expresa de otro modo.

Cristo lo llama -¡presta atención!- lo llama: Hipocresía. Y no sólo esto, sino que dice

-¡horrorízate!- él dice que esta culpa de hipocresía es un delito tan grande, justamente tan grande, como asesinar a los profetas, es decir, culpa de sangre. Sí, si pudiéramos preguntarle a él, quizá constestaría que esta culpa de hipocresía, justamente porque está tan bien escondida y lentamente se extiende por toda la vida, es una culpa mayor que la de quienes, en un arrebato de furia, asesinaron a los profetas.

Este es, pues, el juicio, el juicio de Cristo sobre la "cristiandad", sobre el culto divino dominical, sobre el cristianismo oficial. Horrorízate, pues de lo contrario quedarás colgado de eso. Es tan decepcionante, pues ¿acaso no somos personas de bien, verdaderos cristianos, nosotros, que construimos los sepulcros de los profetas y adornamos las tumbas de los justos, acaso no somos personas de bien, sobre todo comparados con los inhumanos que los asesinaron? Y además, ¿qué tenemos que hacer, si no podemos hacer más que estar dispuestos a dar de nuestro dinero para construir iglesias, etc., no escatimar en el pastor y además, escucharlo? El Nuevo Testamento responde: lo que tienes que hacer es, tienes que seguir a Cristo, sufrir, sufrir por la doctrina; el culto divino que quieres favorecer es hipocresía e igual a culpa de sangre. El pastor con su familia viven de que tú seas un hipócrita o de hacer de ti un hipócrita, o de conservarte en la condición de hipócrita.

"Así se convierten en testigos y aprueban los actos de sus padres: ellos los mataron y ustedes les construyen sepulcros." Lc 11,48.

Sí, el cristianismo de domingo y la enorme logia de pastores comerciantes naturalmente se enfurecen ante este discurso, que con una sola palabra cierra todos los negocios, desecha toda esta profesión autorizada por el rey, y no sólo esto, sino que advierte contra tal culto divino como contra culpa de sangre.

No obstante, es Cristo quien habla. Tan profundamente está unida la hipocresía con el hecho de ser hombre, que justo cuando el hombre natural se encuentra mejor que nunca y ha conseguido armarse un culto divino a su medida, se escucha el juicio de Cristo: Esto es hipocresía, es culpa de sangre. No es que mientras tu vida en los días laborables sea mundana, lo bueno en ti es que al menos los domingos vayas a la iglesia del cristianismo oficial; no, no, el cristianismo oficial es mucho peor que tu mundanal semana, es hipocresía, es culpa de sangre.

Como fundamento de la "cristiandad" yace esta verdad: el hombre es un hipócrita nato. El cristianismo del Nuevo Testamento era la verdad. Pero sagaz y pícaramente el hombre inventó un nuevo tipo de cristianismo, el de construir los sepulcros de los profetas y adornar las tumbas de los justos y decir: si hubiéramos vivido en el tiempo de nuestros padres. Y esto es lo que Cristo llama culpa de sangre.

Lo que el cristianismo quiere es: seguimiento. Lo que el hombre no quiere es, él no quiere sufrir, menos que nada la clase de sufrimiento propiamente cristiano, padecer a los hombres. Entonces quita el seguimiento, y con ello el sufrimiento, lo específicamente cristiano; entonces construye los sepulcros de los profetas: esto por un lado; entonces miente ante Dios, ante sí mismo, ante otros, diciendo que él es mejor que los que asesinaron a los profetas: esto por el otro lado. Hipocresía al principio e hipocresía al final, y según el juicio de Cristo, culpa de sangre.

Imagínate que la gente está reunida en una iglesia de la cristiandad, y que de repente entra Cristo: ¿qué crees que haría?

Bien, lo que haría puedes leerlo en el Nuevo Testamento.

Se dirigiría a los maestros - pues a la congregación la juzgaría como otrora: fueron desviados del camino- se dirigiría a los de "largas vestimentas", a los mercaderes, a los juglares, que transformaron la casa de Dios, si no en una cueva de ladrones, al menos en una boutique o en un puesto de feria, y les diría: "Ustedes, hipócritas; ustedes, serpientes; ustedes, raza de víboras"; y como otrora haría un azote de cuerdas para echarlos del templo (Juan 2:15).
Tú, que lees esto, si no conoces otra cosa sobre el cristianismo que lo que se dice en la perorata dominical, te revelarás contra mí -estoy totalmente preparado para ello, te parecerá que soy responsable de la más horrorosa blasfemia al presentar a Cristo de este modo, dirás "está poniendo en su boca palabras como serpientes, raza de víboras; esto es ciertamente espantoso, son palabras que nunca se escuchan en boca de ninguna persona instruida; y dejar que las repita varias veces es ciertamente tan terriblemente grosero; ¡y hacer de Cristo una persona que utiliza la violencia!"

Mi amigo, si puedes corroborarlo en el Nuevo Testamento. Ahora bien, cuando lo que se quiere alcanzar predicando y enseñando el cristianismo es una vida cómoda y placentera en una posición reputada, entonces la imagen de Cristo debe modificarse algo. Adornos, no, en eso no vamos a escatimar, oro y diamantes y rubíes, etc., no, los pastores lo miran con agrado, y les hacen creer a las personas que eso es cristianismo. Pero la severidad, esa severidad que es inseparable de la seriedad de lo eterno, hay que hacerla a un lado. Cristo se vuelve entonces una figura sentimental, un hombre siempre bueno -esto se relaciona con que el plato puede ir circulando durante el discurso y la comunidad puede tener ganas de poner algo y tirar unas monedas; ante todo se relaciona con que por temor a los hombres, se está en buen entendimiento con los hombres; mientras que el cristianismo del Nuevo Testamento es: por temor de Dios padecer a los hombres por la doctrina.

Pero "ay de ustedes, que construyen los sepulcros de los profetas" (enseñando al pueblo que este es el cristianismo del Nuevo Testamento) y "adornan las tumbas de los justos" (poniendo constantemente juntos el dinero y el cristianismo) y dicen "si nosotros" - sí, si ustedes hubieran vivido en el tiempo de los profetas, los habrían asesinado, es decir, habrían permitido ocultamente, como de hecho sucedió, que el pueblo lo hiciera y cargara con la culpa. Sin embargo, en vano se ocultan ustedes en la "cristiandad"; lo que está oculto queda revelado cuando la Verdad juzga: "así se convierten en testigos y aprueban los actos de sus padres, y colman la medida de sus padres, pues ellos los mataron y ustedes les construyen sepulcros." En vano se hacen los santos, en vano intentan al construir los sepulcros de los justos, mostrar cuán diferentes son de los impíos que los mataron. ¡Oh, la impotencia de la hipocresía para ocultarse! Fueron descubiertos. Justamente el construir los sepulcros de los justos y decir "si nosotros", justamente esto es matarlos, es ser hijos legítimos de aquellos impíos, hacer lo mismo que ellos, es ser testigos de los actos de los padres, aprobarlos, "colmar la medida de los padres", es decir, hacer lo que es aún peor.



[1] El obispo Mynster, primado de la Iglesia Luterana en Dinamarca, murió en enero de 1854. El profesor Martense, candidato a suceder a Mynster, pronunció el elogio fúnebre en el que afirmó que el fallecido "era un eslabón en la cadena sagrada de los testigos de la verdad que se extiende a través de las épocas, desde los días de los apóstoles". La expresión "testigo de la verdad" desencadenó en Kierkegaard la necesidad de señalar la distancia abismal que encontraba entre un miembro de la iglesia establecida, favorecido por el brillo mundano, y la figura de Cristo.

[2] Las citas han sido tomadas de la versión argentina de los Pbros. Armando J. Levoratti y Alfredo B. Trusso El Libro del Pueblo de Dios. La Biblia, Ediciones Paulinas, Madrid, 8º edición de mayo de 1993

Comentários Sobre a Minha Produção Literária

Prezado Diogo.

Obrigado pelo envio do texto. Primeiramente, elogio-o pelo excelente trabalho e escrita. Pessoalmente, gosto muito de ler textos com a qualidade que o seu tem, rara nos novos escritores de hoje. Porém, minha avaliação segue as coordenadas editoriais e comerciais da Editora Vozes e, por elas, infelizmente, não será possível prosseguir no processo editorial do texto. Claro, nada a ver com o conteúdo ou qualidade do texto, mas, sim, com o mercado editorial, cada vez mais acirrado. Nele, as obras de teologia ou temáticas teológicas estão tendo baixa acolhida. Espero que esse quadro mude num tempo breve. Continuo à sua disposição.
Atenciosamente.
Prof. Dr. José Maria da Silva - Editor Religioso Vozes ( Sobre o livro O Deus de Carne )
Olá Diogo,

obrigada por sua mensagem, e por favor me perdoe pela demora de minha resposta.
fiquei impressionada com sua produção literária - parabéns! gostaria de poder te ajudar, mas infelizmente não estou em condições de avaliar novos originais, ou de considerar a entrada de novos autores para a Agência.
fico na torcida por você!
muito sucesso, tudo de bom,
Lucia Riff ( sobre a minha produção literária )
Diogo,

encaminho a mensagem que João José escreveu sobre a avaliação de seu livro.

O esforço empreendido pelo autor na explanação das suas idéias é considerável. Contudo, não é classificável do ponto de vista de uma proposta seja filosófica, religiosa ou histórica. Portanto não é um estudo, senão em termos bastante pessoais, do tipo isto é o que penso sobre a vida, deus, os homens e a sociedade atual.

Como proposta individual, que não se pretende filosófica, é bastante coerente com a linha de pensamento que defende, o anarquismo (cristão), e contém idéias que muito contribuiriam para o debate dos problemas que o homem atual enfrenta, não fosse o mascaramento na defesa de suas teses, embora apaixonadas, por citações de outros autores, filósofos na sua maioria, que servem apenas para dar um caráter solene e culto à proposta do autor, visto que os próprios autores citados são contraditados.

Melhor seria não citá-los, visto que as idéias postuladas só se justificam no próprio anarquismo e em uma fé onde só Deus é. As idéias do autor teriam melhor sabor se propostas sobre uma visão única da vida e da sociedade, e não calcadas e ou justificadas por outras idéias que, estas sim, foram forjadas sem o apêndice de rubricas consagradas, ainda que não tenham partido do zero. (João José de Melo Franco)
Sobre o livro Fé e Anarquia Cristã

Entrevista com Gustavo Gutiérrez

Ángel Darío Carrero, ofm *

Adital -

Entrevista exclusiva ao pai da Teologia da libertação, Gustavo Gutiérrez, em seu 80 aniversario.

A teologia como carta de amor

Poucos são os criadores de uma ruptura epistemológica. No campo da filosofia ocidental moderna foram criadores Descartes, Kant, Hegel, Marx, Heidegger. Na teologia destacaram-se Tomás de Aquino, Lutero, Bultmann, Rahner. Gustavo Gutiérrez abriu um caminho novo e promissor para o pensamento teológico; descobriu ‘ uma nova maneira de fazer teologia’. São palavras certeiras do teólogo Leonardo Boff.A teologia na América Latina e no Caribe caracterizava-se por repetir ou sintetizar pensamentos forâneos. Gutiérrez cria, no fim dos anos sessenta, um método teológico desde e para a América Latina pobre e oprimida. Deu a essa reflexão da fé a partir do reverso da história o nome de Teologia da Libertação.Seu raio de projeção tem sido verdadeiramente impressionante desde a teologia negra, índia, asiática, feminista, ecológica e das religiões até a teologia judaica e palestina da libertação.Gustavo é o primeiro latino-americano a situar-se entre os grandes criadores dentro da história da teologia.No dia 28 de maio, a Universidad Central de Bayamón, dirigida pelos Padres Dominicanos uniu-se a uma plêiade de reconhecimentos internacionais, entre eles, o prestigiado Prêmio Príncipe de Asturias, outorgando-lhe o Doutorado Honoris Causa.
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Leia a entrevista:

-Quando o senhor começa a assumir, como ponto de partida da teologia, a realidade da violência e da pobreza na América Latina e no Caribe?
-Comecei a trabalhar em março de 1964. Houve uma reunião convocada por Iván Illich. O conheci quando estava, todavia, em Porto Rico, em 1960. Foi Iván que convocou uma reunião muito informal em Petrópolis para que disséssemos como víamos o trabalho da teologia na América Latina.

-E qual foi sua colaboração?
-Falei de teologia como uma reflexão sobre a pastoral e sobre a vida cristã. O mesmo que formulei mais tarde como reflexão crítica sobre a práxis à luz da fé.

-O primeiro que surge é o estabelecimento de um método que parte da vida real para iluminá-la à luz da Palavra de Deus e abrir caminhos concretos de libertação?
-Sim. Eu passei praticamente todos os meus estudos de teologia preocupado com a questão do método. Daí a frase: ‘nossa metodologia é nossa espiritualidade’.

-O tema da proximidade aos pobres não é novo; porém, sim, a indagação sobre as causas da pobreza e a luta contra a pobreza como parte da identidade cristã. Quando começa essa transição?
-Me convidaram para falar sobre a pobreza em Montreal, em 1967. Queria tomar distância de Voillaume, o autor de ‘En el corazón de las masas’, porque ele evitava qualquer perspectiva demasiado social em torno à pobreza; porém, a verdade é que não se pode evitar o fato social. Falei sobre três noções bíblicas em relação à pobreza: primeiro, a pobreza real ou material, vista sempre como um mal. A segunda é a pobreza espiritual, como sinônimo de infância espiritual. A pobreza espiritual é colocar minha vida nas mãos de Deus. O desprendimento dos bens é conseqüência da pobreza espiritual. E a terceira dimensão é a solidariedade para com os pobres e contra a pobreza. Voillaume fala que temos que ser pobres. Sim, muito bem; porém, para quê? Que sentido tem? Não é unicamente para santificar-me. Teríamos que ver o que isso significa para o outro.

-Algum outro elemento importante dessa arquitetônica inicial?
-Uma preocupação: como anunciar o Evangelho hoje? A teologia é feita para anunciar o Evangelho, a serviço da Igreja e da comunidade. Tantas faculdades pensam a teologia como metafísica religiosa, não como anúncio histórico de libertação.

-Quando esse novo modo de pensar a fé a partir da perspectiva do pobre e do excluído começa a chamar-se ‘teologia da libertação’?
-Isso será em 22 de julho de 1968, em Chimbote, Peru. Pediram-me para falar sobre ‘teologia do desenvolvimento’ e me neguei. Disse-lhes que falaria sobre a teologia da libertação, que era mais pertinente em nosso contexto. Outra coisa que estava na moda era a ‘teologia da revolução’, da qual também tomei distância. O perigo da mesma era que pretendia cristianizar um fato político.

-Diferente de outros, o senhor nunca esteve de acordo com partidos ou grupos como a Democracia Cristã, nem com ‘Cristãos pelo Socialismo’, apesar de acentuar a dimensão política da fé. Por quê?
-Nunca gostei de que ‘cristão’ fosse usado como adjetivo. ‘Cristão’ é um substantivo. Sempre disse: ‘sou cristão por Cristo, não pelo socialismo’. Se, como cristão, alguém faz uma opção pelo socialismo, isso é outra coisa. Porém, não posso deduzir o socialismo pelo caminho da Bíblia. Da Bíblia deduzo a opção pela justiça, a opção pelo pobre. As pessoas, quando não entendem isso, dizem: ‘tu negas a política, estás do lado contrário’. Eu respondo que também creio na autonomia do social e do político.

-Quando começa a idéia de formar o livro que se converterá em texto fundante da teologia latino-americana contemporânea: ‘Teologia da libertação. Perspectivas’?
-Na realidade, não pensei em escrever um livro propriamente. Trabalhava nos temas que me interessavam e, pouco a pouco, foi saindo. No começo de 1969, após Medellín, uma comissão ecumênica sobre temas de desenvolvimento me convidou a Genebra. Então, retrabalhei a palestra que havia dado em Chimbote e, assim, continuei ampliando.

-Teve oferta concreta de alguma Editora?
-Não. Porém, passou Miguel d’Escoto, de Maryknoll, que acabava de fundar Orbis Books. Viu o livro e me disse: ‘vou publicá-lo’. Foi o primeiro livro publicado por essa editora. O traduziram e o publicaram em 1973, e tem sido o livro mais vendido dessa editora. Depois, passou o editor de Sígueme, da Espanha, e fez o mesmo. Outro que se interessou foi Gibellini. A edição italiana é, inclusive, anterior à espanhola. Já está traduzido para dez ou doze línguas, também para o vietnamita e para o japonês.

-Qual é a oposição principal que o livro recebe?
-Eu diria que, mais do que oposição ao livro, era oposição à teologia da libertação. Muita gente já estava escrevendo sobre o tema. Criticava-se o enfoque marxista da análise da realidade; porém, eu não me sentia aludido. A oposição mais forte que tivemos não veio de dentro da Igreja, mas de alguns componentes da sociedade civil -representantes dos poderes econômicos, militares, políticos. -A discussão aberta é signo de uma teologia que diz algo ao homem e à mulher de hoje, que gera diálogo crítico não somente no interior da Igreja, mas com a sociedade.-Boa parte das reações vem da acolhida que teve. Se eu tivesse permanecido em um ambiente de intelectuais, não teria tido esse impacto. Houve uma acolhida na base, inclusive com expressões que nunca me convenceram, mas que nascem da boa vontade, que dizem: ‘eu sou da teologia da libertação’. Porém, a teologia da libertação não era e nem é um clube no qual alguém se inscreve; nem um partido. Declaravam-se membros e diziam o que queriam e nem sempre correspondia ao que eu pensava. São coisas inevitáveis.

-Porém, há também uma necessidade de encontrar falhas em uma teologia que provém do Sul.-Um jornalista estadunidense me perguntou: ‘o que a teologia da libertação pensa sobre esse problema mundial?’ Eu disse-lhe: ‘você crê que isso é um partido político e que eu sou o Secretário Geral? Pois, não é assim’. Disse-lhe também: ‘por que você não pergunta a Metz (Juan Bautista): o que pensa a teologia política européia desse problema mundial? A ele não; mas a essa teologia, sim. Claro, porque aquilo, sim, é teologia. Metz é alemão’. Algumas pessoas reagiam desse modo porque pensam que algo que vem da América Latina tem que ter grandes falhas. Tem que encontrá-las de qualquer maneira. Se tu és latino-americano, tem que haver alguma posição esquisita. O que querem é coisificar uma teologia.

-Se nos deixamos levar somente pelo que está escrito na imprensa, parece que o senhor foi condenado pela Igreja. E não é verdade.-É curioso. No meu caso nunca houve condenação, nem sequer houve um processo. Houve, sim, um chamado ao diálogo; perguntas que sempre estive disposto a responder.

-Parece-lhe válido esse tipo de diálogo?-Sempre acreditei que a teologia se faz no interior da Igreja. Na Igreja há carismas distintos. Podemos perguntar a quem escreve teologia que dê razão de sua fé, assim como damos razão de nossa esperança. Com esse nível de perguntas, não há porque se ofender.

-Quanto tempo durou o diálogo?
-Começou em 1983 e concluiu de várias maneiras; porém, oficialmente, faz cinco anos. Durante muito tempo houve silêncio. Não houve nada comigo.

-O que diz o texto oficial?
-A expressão é que tudo foi concluído satisfatoriamente.

-Teve vários encontros cara a cara com o Cardeal Joseph Ratzinger?
-Sim, para grande parte deles não fui convocado, mas eu mesmo tomei a iniciativa. Ratzinger é um homem inteligente, educado e, dentro de sua própria mentalidade, evoluiu, entendeu muitas coisas. Em uma ocasião, em Roma, me disse que havia lido meu livro sobre Jó. Eu mesmo lhe enviava meus livros. Sempre acreditei que a distância cria fantasmas. Disse-me que tinha gostado e que os teólogos do Sul tínhamos poesia; que a teologia européia era mais fria.
-Seu modo de proceder tem sido sempre pouco conflitivo, enormemente dialógico e carente de dramatismo. Alguns crêem que corresponde à sua personalidade; porém, creio que aqui há algo profundamente eclesial.-Exato. Tudo vem de que o mundo que mais fala à minha vida não é o mundo intelectual. Não é a defesa de minhas idéias porque são minhas. Interessa-me a vida da Igreja, o anúncio do Evangelho e a vida das Conferências Episcopais.
-A teologia carrega a marca de seu tempo. Estamos claramente entrando em outro tempo no qual não se sente a mesma urgência e se abrem outras rotas à fé.-Até os 40 anos nunca falei da teologia da libertação e creio que era um cristão de verdade. Assim, serei cristão depois da teologia da libertação. Quando me falam que a teologia da libertação já morreu, eu digo: ‘veja, não me convidaram para o enterro e creio que tinha algum direito’. Depois, digo-lhes: ‘creio que um dia, sim, morrerá’. Entendo por morrer o fato de que não tenha a mesma urgência que tinha antes. Isso me parece normal; foi uma colaboração à Igreja em um determinado momento.
-Creio que faz bem em não converter a teologia da libertação em um ídolo, em uma ideologia à defensiva.-Não temos que transformar uma teologia em uma nova religião. Essa é a tendência da sociedade civil. Alguns pensam que a teologia da libertação é uma espécie de cristianismo distinto; o meu cristianismo. E falam isso como se fosse um elogio, não para criticar. Não crêem no cristianismo, mas na teologia da libertação. Pois, sinto muito: o importante é o cristianismo, não a teologia da libertação. A teologia da libertação somente pode ser entendida no interior do cristianismo.

-O senhor não acredita que antes se falava de pluralismo teológico, porém, na realidade, era sobre um pluralismo limitado, isto é, dentro de uma mentalidade quase exclusivamente européia?
-Sim, e, todavia, na academia teológica fala-se de nós como teologia contextual, um pesar que mantém uma estreita relação com a realidade. Quando me dizem isso, eu lhes digo para incomodar: ‘ai, você tem uma idéia muito má da teologia européia. Me está dizendo que não são contextuais; que é uma teologia que não tem relação com a realidade. Uma teologia no ar. Eu não creio nisso’.

-O senhor já teve que lutar contra certa pretensão de superioridade?
-Muitíssimo. Chamar ‘contextual’ a uma e a ‘não contextual’ a outra é um exemplo. Todo pensar corresponde a um contexto. Mais do que um rechaço à teologia da libertação, é uma comunicação com um ponto menor, como se fôssemos algo subalterno. Tem havido muitas coisas nesse estilo. Aceitavam-se as idéias; porém, criticava-se a teologia da libertação.
O que é isso?

-Estávamos acostumados a que a teologia dialogasse somente com a filosofia e não com as ciências sociais. É uma novidade que demorou a ser aceita, no princípio.-Curioso, porque hoje as ciências sociais estão de cheio dentro da teologia. Essa crítica à teologia da libertação já prescreveu. E tudo isso ocorre apesar de que nunca dissemos que as ciências sociais substituíam a filosofia na teologia, mas que ampliávamos o leque de luzes e de disciplinas humanas para trabalhar o mistério cristão.

-Além disso, toda teologia verdadeiramente criadora gera resistências. É a prova de fogo de sua valia.-Evidente. Veja a reação ante o diálogo de Teilhard de Chardin com as ciências naturais. E o exemplo clássico de Santo Tomás de Aquino. Falo de um gigante frente a essa teologia tão anã, como a teologia da libertação. Tomás de Aquino teve resistências enormes; foi condenado pela Universidade de Paris e levou séculos para poder ser reconhecido. Ele incorporou uma filosofia que provinha de um pagão; a repensou; a retomou; a misturou.

-Acredita que já estamos em um novo e melhor momento?
-O momento mais duro e polêmico ficou para trás. Deve ficar para os historiadores. E é muito bom dizer que já passou. Se algo realmente morreu foi esta polêmica. Eu creio que já é tempo de baixar o tom.

-Há um texto no qual o senhor reflete sobre o contexto atual da globalização e da pós-modernidade e para os desafios que a teologia apresenta. Refiro-me ao ensaio ‘Onde dormirão os pobres?’
Aí começa a fazer uma crítica à tentação de fazer da própria teologia um ídolo.-Quando transformo alguma coisa que não seja Deus em um absoluto, caio na idolatria. Escuto dizer: ‘teologia da libertação ou nada’. Eu nunca disse: ‘se você quer compreender a Cristo, leia a teologia da libertação’. Agora, se alguém me pergunta se creio que lendo sobre a teologia da libertação vai compreender algo importante sobre o Cristianismo, creio que sim.É provocador dizer isso porque também a justiça pode converter-se em um ídolo. Vejo pobres serem maltratados por pessoas que se crêem mais politizados do que eles. Fiquei marcado por algo escrito por Pascal, que li quinze anos atrás: ‘o abuso da verdade é pior do que a mentira’. Uma pessoa pode ter a verdade e abusar dela. A pessoa é sempre mais importante.
-Sua reflexão mais recente adverte também sobre a intenção de transformar o pobre em um ídolo.-Isso vem do romanticismo de alguns. Há pessoas que me dizem: ‘aprendi tudo com o pobre, o pobre é tão bom!’. Às vezes, brincando, digo-lhes: ‘você acredita que todos os pobres são mesmo bons e generosos, pois eu não aconselho que você vá ao meu bairro às duas da madrugada, pois ficará nu, como nasceu, só que mais velho’. É uma maneira de dar a entender que a opção não se faz porque o pobre é bom, mas porque Deus é bom. Se o pobre não é bom, a opção é a mesma. Muita gente se decepcionou porque acreditava que o pobre era bom. Se tivessem assumido compromissos porque Deus é bom, todavia estariam comprometidos.
-De fato, em um artigo seu intitulado ‘San Juan de la Cruz en América Latina’ deixa anotado que abrir-nos à dimensão mais mística da fé nos ajuda a evitar esse caminho idolátrico (que, apesar de falar de libertação, não liberta).-A mística tem a capacidade de ajudar-nos a depurar a noção de Deus. Observando o desenho de São João da Cruz, vemos que a partir da ladeira do monte não há caminho. Isso é a mística. Um caminhar em direção ao Senhor. Continuar, fazendo d’Ele, conforme avança, nossa vida, nosso único absoluto.Sem essa dimensão mística, não existe verdadeiro compromisso com os pobres. Pois bem, temos que mudar a noção de mística. Não é como se diz por aí: sair desse mundo. Não se trata de transmitir uma mensagem, mas de ‘transmitir o contemplado’. A isso temos que agregar a intuição de Nadal: ser ‘contemplativos na ação’.

-O que, às vezes, se anuncia como mística, inclusive teólogos importantes ou estudiosos, todavia tem excessivas reminiscências neoplatônicas negadoras do corpo e da história.-A mística não é um desinteressar-se deste mundo. Todavia há pessoas que pensam que alguém que não pisa na terra é muito místico. Se o pobre não importa, não estou seguro de que se trata realmente de uma experiência mística. É interessante que uma mística, Teresinha de Lisieux, seja padroeira das missões.

-Progressivamente, parece que o senhor tem insistido na poesia como melhor linguagem para falar de Deus. É isso?
-A poesia é a melhor linguagem do amor. Deus é amor. A melhor linguagem para falar de Deus é a poesia. Uma linguagem profunda que vê o mundo e vê a relação a partir da dimensão e da profundidade que o conceito não oferece. Mesmo que não escrevamos poesia, a teologia deve ser sempre uma carta de amor a Deus, à Igreja e ao povo a quem servimos.

[Autor de ‘Llama del agua’ (Trotta, Madrid 2001) y ‘Perseguido por la luz’ (Trotta, Madrid 2008). Esta entrevista foi publicada originalmente em ‘A Revista’, do jornal El Nuevo Dia, de Porto Rico, em 22 de junho de 2008].
[Tradução: ADITAL

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Oração de Nietzsche

Antes de prosseguir em meu caminho e lançar o meu olhar para frente uma vez mais, elevo, só, minhas mãos a Ti na direção de quem eu fujo. A Ti, das profundezas de meu coração, tenho dedicado altares festivos para que, em cada momento, Tua voz me pudesse chamar. Sobre esses altares estão gravadas em fogo estas palavras: “Ao Deus desconhecido”. Seu, sou eu, embora até o presente tenha me associado aos sacrílegos. Seu, sou eu, não obstante os laços que me puxem para o abismo. Mesmo querendo fugir, sinto-me forçado a servi-Lo. Eu quero Te conhecer, desconhecido. Tu, que me penetras a alma e, qual turbilhão, invades a minha vida. Tu, o incompreensível, mas meu semelhante, quero Te conhecer, quero servir só a Ti. (Ao Deus desconhecido – Friedrich Nietzsch).

sábado, 9 de agosto de 2008

Doce Liberdade

Estou desempregado!

Mas creio que é por pouco tempo.

O que para muitos poderia causar angústia, depressão, insônia e algumas úlceras estomacais, para mim é motivo de alívio, de liberdade. Estou cançado do ritmo alucinante do comércio nos dias de sábado. Domingo então nem se fala... Cliente chato, funcionário chato, chefe chato. E as exigências aumentando: não ligava tanto para a questão do salário, é pouco, mas dava pra sobreviver. Mas sobre pressão... tem uma hora que tudo fica insuportável. Senti saudade da igreja, senti saudade de Deus e de mim mesmo. Percebi que eu estava me transformando sorrateiramente num materialista machista estressado.

Peraí: Machista?!

Vai trabalhar numa empresa onde a maioria são mulheres.. Dois anos disso quase me enlouqueceram. Era quase um casamento. Quase...

Por hora dedico-me a minha paixão: escrever. Por meus livros nunca me sinto traído, mas as vezes tenho o costume de os trair.

Estou desempregado. Olho no bolso e nem uma moeda sequer. Mas que miséria hein seu Diogo! O que é que você foi fazer...

Está feito. Pedi demissão e não vou voltar atrás.

Até conseguir outro emprego.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Jesus Chorou

Jesus Chorou ( Jo.11.35).

E nós também choramos. Sendo assim, se torna fácil por essa via, alcançarmos familiaridade com ele. Jesus chorou e isso o fez homem, participando da nossa natureza, da nossa dor, do nosso repúdio à distância evocada pela morte, da nossa saudade. Jesus Chorou: um homem apenas como os demais? Nem tanto. O mesmo apóstolo que descreveu tal ato com tanta emoção, encerra o seu evangelho não poupando as reticências:

Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez; e se cada uma das quais fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem. Amém (Jo. 21.25).

João, ele mesmo afirma que suprimiu e selecionou fatos, dentre os quais considerava que fosse importantes ou não ao objetivo de seu evangelho. É por isso que todo o seu conteúdo se eleva nos forçando a olhar por cima das aparências, dentre eles, os gentos mais banais, mais humanos.

Jesus chorou e isso para João é importante que todos saibam!

O apóstolo nos convida à uma profunda reflexão por cima da natureza do homem e sobre o homem, sobre criador e criatura. João nos convida a olharmos para Jesus.

Jesus ? Quem é Jesus?

Essa é a pergunta que se escondia por trás de suas lágrimas. Todo homem chora. Mas se Jesus não for somente um homem, e se ele for mais do que isso?

Putz, quem nos crucificamos?

O profeta? Um romântico revolucionário? O mestre da lei? O messias? O próprio Deus?

Jesus Chorou.

Jesus? Quem é Jesus?

domingo, 3 de agosto de 2008

Pornografia Evangélica

Novamente a paisagem urbana me convida à doce aspiração dos poetas mais enigmáticos: pensar. No entanto hoje, seu convite costumeiramente inusitado, pareceu-me mais uma forma violenta de agressão. Hoje sou um crítico ácido, apaixonado pelo calor da revolução, amanhã um incorrigível pensador tímido e fraco:

... e vós de duplo ânimo, purificai os corações (Tg. 4.8).

Ai meu Deus, perdoai-me por amanhã, mas abençoai-me pelo calor apaixonado que me motiva a escrever a crítica de hoje.

É curioso observar como funciona o mercado informal, em particiular o de dvd's piratas: andando com o passo apressado entre as ruas do centro da cidade, notei que atrás de um ambulante sentado num pequeno banco, estava uma prateleira repleta de dvd's evangélicos. O que me chamou a atenção foi perceber que bem ao lado, existia uma outra prateleira cheia de dvd's pornográficos.

Para o ambulante é tudo igual: é só produto, e sem ele, sua maneira de ganhar dinheiro e sobreviver fica ameaçada.

Se me fosse possível, faria apenas uma única pergunta aos rostos estampados naqueles dvd's: O que vocês vendem? O engraçado é que sei perfeitamente o que os dvd's pornográficos me diriam, no entanto, não consigo imaginar uma resposta dos outros dvd's que justifique e tente conciliar a prática comercial em larga escala com o cristianismo. Para o capitalismo tudo é produto, inclusive a fé, inclusive Jesus.

Você vende fé?

Você vende espiritualidade?

Você vende milagres ?

Você vende o perdão de Deus?

O que você vende?

O capitalismo vende a Deus, mas Deus não se compra. Me vêm a memória o peço da traição de Judas: trinta moedas de prata por Jesus, hoje em dia pagamos 5, 10, 50 reais por ele: cd's, dvd's, camisetas, bonés. Barato né? A liberdade de pensamento justificada pela política democrática apenas se justifica pelo interesse na expansão de mercados e de consumidores feito através do capitalismo.

Será então a ditadura uma solução?

Não somos gregos, nem tudo se resolve pela dicotomia analítica bem- mal (na moral), bonito-feio (na estética), corpo-alma (na antropologia), Deus - diabo (na teologia). O mesmo acontece com a política: nem tudo se resolve com a dicotomia democracias - ditaduras. Somos cristãos: e como pensadores cristãos temos a dialética como uma ferramenta útil para a exposição didática da fé.

É só pensar um pouco...

domingo, 27 de julho de 2008

Entrevista a Jurgen Moltmann

Jürgen Moltmann, 81 anos, é neto de um grão-mestre da Maçonaria. Autor de Teologia da Esperança, influenciou gerações de teólogos contemporâneos. Esteve recentemente no Porto, a participar nas jornadas da Faculdade de Teologia da Universidade Católica. Nesta entrevista garante que o problema não é Deus, mas as instituições: "A Igreja para as pessoas já não funciona, precisamos de uma Igreja das pessoas.

"Que importância teve o facto de ter feito a guerra e ter sido preso?

Foi um ponto de viragem na minha vida. Venho de uma família secular de Hamburgo. A religião, a teologia e a Igreja estavam longe de mim. Eu queria estudar física, matemática...Admirava Einstein, não era?Sim. Fui mobilizado, com 16 anos, para as baterias anti-aéreas de Hamburgo. Experimentei a destruição da minha cidade em Julho de 1943, depois de um bombardeamento inglês. Sobrevivi dificilmente: caiu uma bomba no centro da cidade e matou um amigo ao pé de mim. Vi-me a gritar: "Meu Deus, onde estás? Porque é que estou vivo e não morto?" Tive tempo para pensar, nos três anos como prisioneiro de guerra. Foi quando descobri Deus e Cristo. Tornei-me cristão e comecei a estudar teologia para descobrir que verdade havia nela. O fim da guerra revelou a destruição. O facto de sobreviver deu-me a determinação de defender a vida e a liberdade.

Deus morreu no Holocausto?

Não. Deus revelou-se-me na paixão de Jesus Cristo, quando me senti abandonado. Descobri Cristo como meu irmão, que partilhou o meu abandono, que morreu gritando "Meu Deus, porque me abandonaste?"

As vítimas são o Crucificado?


Sim. Cristo estava entre as pessoas mortas, sinal de que Deus está do seu lado, de que Deus também sofre na história. Compreendi Deus como um Deus de compaixão.Parece que Deus morreu ou desapareceu da Europa...Não, Deus não está morto na Europa. Essa foi uma ideia estranha, no século XIX. Nietzsche dizia que o homem tinha morto Deus. Deus está a sofrer e carrega todas as contradições que vivemos. Na sociedade secular, as pessoas esqueceram-no, temos um forte laicismo, mas isso não é bom. Por outro lado, estamos a entrar numa sociedade multireligiosa. O cristianismo tem que descobrir o seu papel nesta sociedade.

O problema das pessoas é com as instituições e não com Deus?

Sim, sem dúvida.Escreveu que a fé deve basear-se na ressurreição de Jesus. Como falar da ressurreição?Anunciando-a por aí. O espírito da ressurreição é o de amar a vida. A questão é se dizemos sim à vida ou se sacrificamos a vida, vitimizando as pessoas.

O que é a vida à luz da ressurreição de Cristo?

Há quem queira provas, pondo em causa a historicidade de Jesus. O túmulo estava vazio?Penso que estava vazio, porque os discípulos de Jesus fugiram quando ele foi crucificado. Eles esperavam que ele fosse o messias redentor de Israel e entretanto estava a morrer, impotente. Fugiram para a Galileia... Depois, Cristo ressuscitado apareceu-lhes e regressaram a Jerusalém, anunciando que Deus tinha ressuscitado Jesus de entre os mortos. Se o túmulo não estivesse vazio, os judeus teriam perguntado como podiam dizer isso. Apareceu o documentário sobre o alegado ossário de Jesus...Na América, pode fazer-se algo grande a propósito de Jesus, porque as pessoas gostam dele. Há a história similar que Jesus apareceu na Índia ou casou com Madalena, que os reis franceses descendem dele... Isso é apenas espectáculo, é religião pop...

Como pode o Deus impotente de que falava salvar as pessoas?

Um Deus que não tivesse compaixão por nós não seria capaz de nos compreender. Um grande matemático e filósofo, Alfred North Whitehead, escrevia: "Deus é um companheiro sofredor que nos compreende." [Se não fosse assim,] Deus não poderia salvar-nos. Não acredito num Deus apático, mas num Deus de compaixão. Esse é o seu poder. Não é um super-poder como o da América, mas um poder de compaixão.Relaciona o terrorismo e a indiferença para com a morte.

Como se pode vencer esse mal?

Só nas consciências, nunca nas ruas com polícias, bombas ou o exército americano. A vida é melhor que a morte e cometer suicídio e assassínios em massa é contra o Deus do islão e do cristianismo.

Só a religião da liberdade pode vencer a religião do medo?

Temos elementos negativos, sobre a destruição da vida na Terra, em todas as religiões. As religiões devem tornar-se religiões da vida contra a morte. Devemos prevenir a destruição e o terrorismo.

Há o pecado do desespero, que definia na Teologia da Esperança?

Sim, claro. Sem esperança, entramos no desespero. As pessoas não se interessam por nada, há o terrorismo, um grande desespero.

Em que devem as pessoas pôr a sua esperança?Nas igrejas, na religião, na política?

Em Deus, espero, não nas instituições. A única razão pela qual a humanidade deve sobreviver é confiar que Deus quer que a humanidade sobreviva. Se não houver uma boa razão, porque devemos sobreviver?Disse uma vez que foi o marxista Ernst Bloch que lhe ensinou a esperança, que os cristãos tinham esquecido. Deixe-me dizer que Ernst Bloch não foi um marxista, mas um judeu reflectindo o messianismo. O seu livro O Princípio Esperança cita muito a Bíblia, facto raro na literatura filosófica alemã. Quando o conheci, há 40 anos, perguntei-lhe: "Você é ateu?" Ele respondeu: "Sou ateu, graças a Deus." Isso explica a sua forma dialéctica de pensar. O marxismo dele era tão pobre que foi expulso da sua cadeira em Leipzig, na antiga Alemanha Democrática, exilando-se na Alemanha Ocidental. A sua filosofia do messianismo e da esperança judaica inspirou-me a olhar para a tradição cristã. Não o segui, mas escrevi um trabalho paralelo, a Teologia da Esperança.

Como distingue a esperança cristã da utopia marxista e dos milenarismos?

A esperança cristã é uma perspectiva do futuro à luz da ressurreição de Cristo. O milenarismo é uma especulação, não tem a ver com a ressurreição do Cristo crucificado. A expectativa marxista do futuro tem a ver com o mundo moderno: há um progresso histórico da necessidade à liberdade, da sociedade burguesa à sociedade socialista e comunista. É parte da crença moderna no progresso. Não tem a ver com a esperança cristã na vinda do Reino de Deus à luz da Páscoa da ressurreição de Cristo.

A sua teologia influenciou a teologia da libertação...

O meu primeiro encontro foi com Gustavo Gutiérrez, com o seu livro Teologia da Libertação, publicado em 1971, em que ele citava a minha Teologia da Esperança, publicado em 1964. Ele aplicava algumas das minhas ideias à pobreza de massas. Houve um ponto de conflito não com Gutiérrez, mas com outros teólogos: o modo como usavam o marxismo era tão superficial, no meu entendimento de Marx e da realidade, que escrevi a alguns deles e isso provocou conflitos, depois ultrapassados.

Como olha para o caso de Jon Sobrino, censurado pelo Vaticano em Março?

O que ele diz, também digo. Li a notificação da Congregação para a Doutrina da Fé [do Vaticano], um documento muito pobre, teologicamente mau. Estou muito mais do lado de Sobrino. A intenção [do Vaticano] era limitar a influência de Ignacio Ellacuría [reitor da Universidade Centro-Americana, de El Salvador], que foi morto [em 1989], com mais cinco jesuítas. Tenho uma relação especial com o acontecimento: quando mataram os padres mais outras duas pessoas, levaram um livro a Jon Sobrino, que estava cheio de sangue. Era o meu livro O Deus Crucificado. Fui em peregrinação, um ano depois, a El Salvador, aos túmulos dos jesuítas, símbolos desse Deus crucificado. Jon Sobrino é um dos melhores teólogos da América Central. Este é um debate tardio, supérfluo, desnecessário.Essa experiência é semelhante à da Igreja Confessante na Alemanha, que resistiu ao nazismo durante a II Guerra?Sim, deram ambas mártires. Mas há mais mártires nas comunidades e igrejas cristãs resistentes da América Latina.

O pastor luterano Dietrich Bonhoeffer fuzilado pelos nazis, é uma referência para si?

Sim. E influenciou também, pelo seu exemplo, muitos teólogos latino-americanos, no sentido de resistirem, mesmo activamente.Defende uma Igreja mais ministerial e carismática. É uma forte crítica à Igreja Católica, mais hierárquica.Não necessariamente. Nos últimos dez anos, tive uma relação forte com igrejas pentecostais na Coreia e na Nicarágua. É errado o que os bispos católicos dizem, que esses grupos são seitas. Desde sempre houve movimentos sectários no cristianismo. Mas aqui há mais qualquer coisa. Trata-se de uma nova vaga do Espírito Santo: formam-se comunidades e congregações, vão de casa em casa a evangelizar... Devemos tomar isto mais a sério e não falar apenas de seitas más. Por exemplo, há bairros em São Paulo com um padre para 25 mil católicos. A maior parte das pessoas nunca o vê e ele não pode nunca conhecer toda esta gente. Então, vêm os pentecostais, pregam de casa em casa, formam comunidades, convidam para o culto de domingo, são muito afectivos. A Igreja Católica tem que caminhar para uma "congregacionalização". A Igreja para as pessoas já não funciona, precisamos de uma Igreja das pessoas.

Tal como Lutero propunha, no início da Reforma protestante?

Sim, mesmo se as igrejas luteranas também se tornaram estatais e estabelecidas. O que precisamos é de igrejas congregacionais. E isso está a ser influenciado pelos pentecostais. Não devemos rejeitá-los, mas ver o que está Deus a fazer através deles. E aprender deles.

Fonte: http://prasinal.blogspot.com/2007/05/jrgen-moltmann-uma-entrevista-ler.html

sábado, 5 de julho de 2008

Sonhar, Viver, Sobreviver

A paisagem urbana pode oferecer uma fascinante viagem filosófica, as vezes sem volta: ontem num ônibus, voltando de uma cansativa rotina de trabalho, pude observar de relance pela janela, o garrancho quase infantil estampado num muro, cujas simples palavras, talves pela forma inusitada de as encontrar ali, se tornaram para mim profundamente belas.

Parei, não diante do muro, mas na mente.

Dizia a pixação:

Sonhar pra sobreviver

Quem a escreveu? Talves um grande sonhador, anônimo cuja voz, estampada num muro, estava agora na minha mente, na minha vida. Sonhar, viver, sobreviver. transcender a vida, ultrapassá-la. Sonho. Só sonhando. Todo sonho é um horozonte, uma forma antecipada de ver o futuro, sentido. Todo sonho cria memória, faz história e a história cria um novo sonho, assim a vida continua, se perpetua. Todo sonho nasce de uma inconformação ao presente. Sonhadores costumam nascer póstumos.

Sonhar, viver, sobreviver.

Todo sonho vai além de um sentido para a vida, ele é o motivo para continuarmos vivo, se torna por isso uma força de reação contra a morte. Sem um sonho apenas existe o fim. Apatia.
I rave a dream.
Eu tenho um sonho.

Eu sou eterno.

sábado, 28 de junho de 2008

Rev. Carlos Alberto

Alguns homens não podem ser descritos completamente por palavras, e são exatamente aqueles que fazem das palavras, mas do que a usual capacidade humana de se comunicar, a divina manifestação da própria providência. Acredito que o Rev. Carlos Alberto Chaves, pároco da Paróquia Anglicana Reformada da Santíssima Trindade em Copacabana, esteja entre esses homens. Um grande orador: indício de uma acentuada preocupação em transmitir adequadamente a palavra de Deus - com conhecimento, inteligência e que acima de tudo, atenda as necessidades de seus ouvintes, que a Palavra de fato, seja uma forma de alimento, para o espírito e para a alma, que a Palavra de fato seja de Deus, e não a simples reverberação de um método eficiente de convencimento. Diante de um grande orador com tal preocupação, uma entrevista se torna uma forma de inspiração, não para ele, mas para nós. Portanto caríssimo, nos inspire...

Blog da Paróquia Anglicana da Santíssima Trindade: http://anglicanasst-rj.blogspot.com/



Vigília da Noite - Descreva resumidamente como foi o seu chamado e motivação à carreira pastoral, seu início e as frequentes dificuldades envolvidas nesse ministério.


Rev. Carlos - Quando adolescente fiquei muito marcado por minha experiência religiosa e, após a confirmação (profissão de fé), procurei, de todas as formas, resitir ao desejo de tornar-me Ministro do Santo Evangelho. Como, porém, parecia-me impossível (pois, assim pensar e procurar agir nesta direção era como estar fora do sentido da vida), resolvi aquiescer ao chamado e, com 17 anos ingressei no Seminário (completando 18 anos no primeiro ano do Curso de Bacharel em Teologia). Hoje, com 49 anos, não poderia me entender como pessoa e cristão, senão, fazendo o que faço.


Vigília da Noite - Um exemplo em sua vida.

Albert Schweitzer.


Vigília da Noite - Como o senhor vê hoje a situação da cristandade no mundo? A igreja tem de fato exercido a sua missão ou deixado a desejar?


Rev. Carlos - Há vários cristianismos no mundo e, para falar de cada um gastaria páginas de livros e livros para analisá-los. Queria, entretanto, fazer uma distinção: a instituição religiosa (igrejas) e as comunidades e/ou grupos de ação e fé sob inspiração religiosa cristã.
Em geral as instituições são por demais coercitivas, castradoras, conservadoras (retrógradas), envoltas em disputas de poder, dentro e fora da instituição.


Qualquer parco sociólogo dirá que são características fundamentais de instituições aumentar seu poder, preservar sua coerção (poder) interna, ampliar suas fontes de recursos, aumentar sua abrangência social e coibir dissonãncias e discordâncias internas evitando dissidências. Sem isso ela não sobreviveria. Assim, instituições necessitam de pessoas que mantenham sua burocacria, exerçam a coerção e ampliem suas fontes de renda e número de adeptos. Seria impossível a uma instituição, senão, somente, sob pena de desaparecer, não ser: repressora, preservadora do status quo e interligadas às outras instituições que a cercam em relações de interesse e poder. Por isso, p.ex., a instituição religiosa perseguiu, prendeu, julgou, maltratou e matou a Jesus Cristo.


Uma comunidade ou grupo, diferentemente, reune-se à volta de uma utopia, de um sonho, ou de ideais e buscas comuns: aqui encontramos mais a Igreja de Jesus Cristo do que, em si (note, em si), nas instituições religiosa que recebem o nome de "Igreja".





Vigília da Noite - Fale um pouco sobre seu envolvimento com a teologia da libertação.


Rev. Carlos - Quando estudei para o Bacharelado em Teologia, aqui na América Latina e, em especial no Brasil (1978), a teologia que movimentava o pensamento teológico era a TdL. Formei-me estudando seus autores e aprendi a ler a Bíblia pelos instrumentos das diferentes teologias da libertação. Ela conseguia usar o método barthiano de estudo das Escrituras (o jornal em uma mão e a Bíblia - e seus instrumento de análise - em outra) e a leitura crítica do socialismo e do marxismo à realidade. Por isso, entendi (no passado) e ainda permaneço entendendo, a TdL ainda é a única e melhor forma de se fazer teologia para a realidade na qual nos inserimos.


Vigília da Noite - Uma fonte de inspiração.
Rev. Carlos - São Francisco de Assis.


Vigília da Noite - Uma experiência inesquecível.

Rev. Carlos - Como não sei se a pergunta volta-se ao negativo ou ao positivo, vou responder falando sobre um e outro.

Negativa - marcou-me profundamente ter de sepultar um oficial de Igreja, novo, com filhas adolescentes e dois pequenos filhos, que, no domingo havia-me pedido uma partitura coral que falava sobre a fé e a coragem que ela infunde e ter o mesmo usado isso para colocar sua cabeça dentro do forno, ligar o gás e suicidar-se. Esta foi uma experiência marcante, doída e difícil, mas, também, um desafio à confissão da fé e do múnus pastoral, pois tive de encontrar e buscar dentro de mim algo que não conhecia e julgava não ter para realizar o sepultamento, acompanhar a família posteriormente e conseguir consolar aquelas vidas ante ao trágico e bizarro. Até hoje suas filhas são minhas queridas amigas e sempre gratas.

Positiva - reencontrar, depois de longos anos de separação, aquela que hoje é a minha querida esposa.

Vigília da Noite - Uma fonte de indignação.

Rev. Carlos - O fosso desnecessário e injustificável entre os ricos e pobres no Brasil.

Vigília da Noite - Frase.:

Rev. Carlos -Há tantas...

Bíblica - Jesus chorou.

Escritor - F. Nietzsche:"Ai de mim, esta é a minha dor: introduziram atrás de todas as coisas, mentindo, prêmio e castigo.""Se dizem que são bons e mansos, para ser fariseu, só falta o poder."
"Sou inimigo de tudo o que já, cansado, não pode nem morrer nem viver."

"Aquilo que não se pode mais amar, deve-se passar além"

Dostoievski: "Creio que não existe nada de mais belo, de mais profundo, de mais simpático, de mais viril e de mais perfeito do que o Cristo; e eu digo a mim mesmo, com um amor cioso, que não existe e não pode existir. Mais do que isto: se alguém me provar que o Cristo está fora da verdade e que esta não se acha n'Ele, prefiro ficar com o Cristo a ficar com a verdade."

Vigília da Noite - Os melhores livros:
Rubem Alves - O Enigma da Religião
Rudolf Bultamnn - Teologia do Novo testamento
Leonardo Boff - Jesus Cristo Libertador

Vigília da Noite - Os melhores filmes:
Um Sonho de Liberdade (Diretor: Frank Darabont; com Tim Robbins e Morgan Freeman)
Ilha das Flores (documentário dirigido por Jorge Furtado)
Nós Que Aqui Estamos Por Vós Esperamos (documentário dirigido por Marcelo Marsagão)

Vigília da Noite - As melhores músicas:
À Flor da Pele, e, O Que Será (Chico Buarque)
Somewehe Over The Rainbow (cantado por Judy Garland, do filme O Mágico de Óz)
Bastidores (Chico Buarque)

Vigília da Noite - O futuro:
Rev. Carlos - Esperança e fé.

Vigília da Noite - Seu legado:
Rev. Carlos - Nunca se esqueçam dos pobres.

Vigília da Noite - Um conselho para os que estão começando agora:
Rev. Carlos - Não se vendam, não se deixem seduzir ou comprar. Melhor ter ideais bons, e seus, do que "segurança" e poder.

domingo, 15 de junho de 2008

Mulheres, mulheres e ulheres

Certas mulheres, mais do que seres humanos, são violentas forças da natureza. A mesma chuva que dá vida à terra, numa enchurrada arrasta cidades.

O mesmo Salomão que escreveu:


O que acha uma mulher acha uma cousa boa e alcançou a benevolência do Senhor. (Prov. 18.22)


Também escreveu:

E eu achei uma cousa mais amarga do que a morte, a mulher cujo coração são redes e laços, e cujas mãos são ataduras: quem for bom diante de Deus escapará dela, mas o pecador virá a ser preso por ela. (Ecl. 7.26)

Talves eu esteja enlaçado. Ontem tive uma epifania: Afrodite desceu do Olimpo e veio até mim, ela me beijou e descobri que o amor é doce. Contudo, não nasci pagão, deusas não deveriam me impressionar, mas essa serpente me devorou, por ela eu fui envenenado. Malditos os homens que vivem como cachorros: o cachorro ao brincar com a serpente acabará sendo morto por ela. Estou apaixonado? Isso eu não sei dizer, tenho uma pedra no lugar do coração. Vivo desconfiado, não tenho beleza que impressiona.

Dia dos namorados? verdadeiro amor não se comemora, se lastima, exatamente por sermos devoradores de corpos mais do que de almas. Amar uma mulher por causa da beleza de seu corpo é o mesmo que imunda necrofilia.

Deixo minha mensagem aos namorados citando Nietzsche e seu profeta Zaratustra:

Tema o homem a mulher quando a mulher odeia, porque no fundo o homem é mal, mas a mulher é perversa.

sábado, 14 de junho de 2008

O Desespero Humano

" Oh! sei bem tudo o que se diz da angústia humana... e presto atenção, também eu conheci, e de perto, mais de um caso; o que não se conta de existências malbaratadas! mas só se desperediça aquela que as alegrias e tristezas da vida iludem a tal ponto que jamais atinge, como um ganho decisivo para a eternidade, a consciência de ser um espírito, um eu, por outras palavras, que jamais consegue constatar ou sentir profundamente a existência de um Deus, não tão pouco que ela própria, "ela", o seu eu, existe para esse Deus, mas esta consciência, esta conquista da eternidade, só se consegue para lá do desespero. E esta outra miséria" tantas existências frustradas dum pensamento que é a beatitude das beatitudes! Dizer- ai de nós"- que nos entretemos e que se entretêm as multidões com tudo, exceto com aquilo que importa! que as arrastam a disperdiçar a sua vida no palco da vida sem nunca lhes recordar essa beatitude! que as conduzem em rebanhos... enganando-as em vez de as dispersar, de isolar cada indivíduo, a fim de que sozinho se consagre a atingir o fim supremo, o único que vale que se viva e que tem com que alimentar toda uma vida eterna. Perante essa miséria eu poderia chorar uma eternidade inteira! Mas mais um horrível sinal dessa doença - a pior de todas - é o seu segredo. Não só o desejo e os esforços bem sucedidos para escondê-la daquele que a sofre, não só que ela o possa habitar sem que ninguém, ninguém a descubra, não! mas ainda que ela de tal modo se possa dissimular no homem que nem ele se dê conta! E, esvaziada a ampulheta, a ampulheta terrestre, reduzidos a silêncio todos os ruídos do século, acabada nossa agitação febril e estéril, quando em redor tudo for silêncio, como na eternidade - homem ou mulher, rico ou pobre, subalterno ou senhor, feliz ou mal- aventurado, quer a tua cabeça tenha suportado o brilho da coroa ou que, perdido entre os humildes, não tenhas tido mais do que as penas e os suores dos dias, quer a tua glória seja celebrada enquanto durar o mundo ou esquecido, sem nome, anonimamente sigas a multidão inumerável; quer o esplendor que te rodeou tenha ultrapassado qualquer descrição humana, ou os homens te tenham aplicado a mais aviltante das condenações, quem quer tenhas sido, a ti como a cada um dos milhões dos teus semelhantes, a eternidade duma só coisa inquirirá: se a tua vida foi ou não de desespero, e se, desesperado, tu ignoravas sê-lo, ou soterravas em ti esses desespero, como um segredo angustioso, como o fruto dum amor criminoso, ou se, horrorizando os mais, desesperado, gritavas enfurecido. E, se a tua vida não foi senão o desespero, que pode então importar o resto! vitórias ou derrotas, para ti tudo está perdido, a eternidade não te dá como seu, ela não te conheceu, ou, pior ainda, identificando-te, amarra-te ao teu eu, o teu eu de desespero!."
KIERKEGAARD, Soren Aabie. O Desespero Humano. Coleção Os Pensadores, 1974. pag. 348.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Pr. Paulo Lima

Inauguro esta seção de entrevistas do meu blog com uma personalidade singular. Pastor batista, cujo ofício exerce com entusiasmo em Vila Norma, São joão de Meriti, no Rio de Janeiro, sua grande paixão é anunciar Cristo, tendo como principal característica uma sabedoria admirável para simplificar aquilo que outros teólogos só complicam: a doutrina cristã. Entretanto, sou suspeito a propor comentários: sou ovelha de seu ministério. Por isso, reservo esse espaço para que ele fale de si mesmo e de sua experiência na carreira ministerial e cristã.
Vigília da Noite- Descreva resumidamente como foi o seu chamado e motivação à carreira pastoral, seu início e as frequentes dificuldades envolvidas nesse ministério.

Pr. Paulo Lima - Aos 5 anos de idade a minha tia Carolina (Tia Calú) me disse: "Você vai crescer e vai ser um pastor" - isso foi num domingo no culto da manhã da Igreja Presbiteriana de Olaria (ano de 1950). Eu estava no colo dela no momento dessa palavra. Considero que foi uma inspiração divina que a levou àquela afirmação, pois, jamais me esqueci das suas palavras. O tempo foi passando e eu já adolescente tomei consciência da vida com as suas dificuldades, principalmente no que diz respeito ao pecado. Cheguei à conclusão que eu não poderia ser um pastor porque era indigno para tal. Julgava eu que um pastor deveria ser um homem com menos inclinação ao pecado do que eu.
Lutei muito para não ser o pastor. Somente aos 38 anos de idade é que eu cheguei ao Seminário, depois de grande dificuldade, durante a qual eu entendi que toda a minha luta se dava porque eu estava sendo desobediente ao Senhor.
Depois, abençoado e formado, assumi o ministério e tenho sido ricamente orientado pelo Senhor da Seara.

Vigília da Noite- Um exemplo em sua vida.

Pr. Paulo Lima- A vida do Pr. Nilson do Amaral Fanini.

Vigília da Noite- Como o senhor vê hoje a situação da cristandade no mundo? A igreja tem de fato exercido a sua missão ou deixado a desejar?

Pr. Paulo Lima- O inimigo lançou o joio no meio do trigo abundantemente. Hoje, a gente não pode afirmar quem é cristão e quem não é. Certamente que o fruto de cada um é que vai definir e dar a resposta. Entretanto, o "cristianismo da moda" como temos visto por aí, é algo que confunde e desorienta a quem busca a resposta a essa pergunta que você fez. A Igreja já não é una. Existem muitas denominações e muita efervescência no meio cristão, especialmente porque a maioria das denominações das dissidências, tão comuns hoje, tem fragmentado o meio dito evangélico, não permitindo que alguém se refira à IGREJA. Assim sendo, a missão de atender ao IDE de Jesus está altamente prejudicada, não permitindo uma avaliação absoluta. Mas, pode-se ver pelo contexto, que a missão de anunciar um Evangelho genuino e puro está altamente comprometida.
Vigília da Noite- Uma fonte de inspiração.

Pr. Paulo Lima- A Bíblia Sagrada.
Vigília da Noite- Uma experiência inesquecível.

Pr. Paulo Lima- Um encontro com o anjo do Senhor aos 19 anos e o reencontro com o mesmo 30 anos depois. Evito falar sobre os dois eventos que me fizeram reconhecer aquele personagem porque julgo que foi algo muito especial para mim. Por outro lado, alguém poderia julgar fantasiosa a história.

Vigília da Noite- Uma fonte de indignação.

Pr. Paulo Lima- As Casas Legislativas brasileiras me causam náuseas.

Vigília da Noite- Frase.

Pr.Paulo Lima- "O teu carisma poderá te levar onde o teu caráter não poderá te sustentar"
(Dr. Pr. Paulo Ribeiro - Assembléia de Deus)

Vigília da Noite- Os melhores livros:

1 -Barro nas Mãos do Oleiro - Dorothy Sun
2 -Sob os Céus da Palestina - Mário Barreto França (Poesias)
3 -Meu Querido Canibal - Antonio Torres

Vigília da Noite- Os melhores filmes:

1 - E o Vento Levou (inesquecível)
2 - Ladrão de Casaca

Vigília da Noite- As melhores músicas:

1 - Love Story
2 - El día em que me quieras


Vigília da Noite- O futuro:

Pr. Paulo Lima- A Deus pertence, mas espero estar trabalhando até o meu último dia.

Vigília da Noite- Seu legado:

Pr. Paulo Lima- Quero deixar impregnado na mente dos meus ouvintes que a vida (em todos os sentidos) só tem 3 degraus: SABER, CONHECER e ENTENDER. Só os entendidos serão vitoriosos. Por isso há que se especializar e ser o melhor naquilo que faz.

domingo, 8 de junho de 2008

Batismo de Sangue


Diante de um regime autoritário, todas as formas de reação e protesto parecem válidas, e com o tempo passam a ser interpretadas como oriundas de um único desejo de liberdade: o povo, na multiplicidade de expressões, se une na iniciativa de, por meio da força, do exemplo ou da idéia, promover a queda de regimes centralizadores e tiranos. E quando a igreja decide participar, mesmo não oficialmente dessa iniciativa, que antes de tudo não é política, mas social, partindo exclusivamente das camadas mais desfavorecidas da sociedade, a própria doutrina cristã se vê comprometida com a queda de regimes políticos, justiça social e tolerância a pluralidade. O cristianismo passa a ser então associado a ideais democráticos, por defender direta ou indiretamente, desde sua origem à beira do mar da galiléia e ao longo de toda a sua história, a vida. Assim nasceu a teologia da libertação, como protesto e denúncia, mas também como forma de aproximar o povo da igreja, a partir de uma indignação comum: o clamor por justiça.



Particularmente não acredito na democracia, e a forma como vejo o cristianismo, no que se refere a doutrina, diverge em alguns aspectos da teologia da libertação, contudo, gosto da ênfase propíciada por essa corrente teológica à prática, deixarei esse assunto para outra hora, entretanto, quero apenas dar ocasião ao filme, que inspirado no livro de Frei Beto, me levou às lágrimas, e perceber quão pouco cristão eu sou.



" Baseado em fatos reais, o filme conta a participação de frades dominicanos na luta clandestina contra a ditadura militar, no final dos anos 60. Movidos por ideais cristãos, eles decidem apoiar a luta armada, e são presos e torturados. Um deles, Frei Tito, é mandado para o exílio na França, onde, atormentado pelas imagens de seus carrascos, comete suicídio (...).O filme, de Helvécio Ratton, é baseado no livro homônimo do Frei Betto (vencedor do Prêmio Jabuti) e conta a ação dos dominicanos junto à Ação Libertadora Nacional - ALN, movimento guerrilheiro comandado pelo Carlos Marighella. ". Fonte: www.cranik.com/batismodesangue.html




quarta-feira, 4 de junho de 2008

Panegírico Televisivo

Estou cansado de desperdiçar cada segundo da minha vida.


Diante da Tv todos os homens são apenas expectadores de suas próprias existências, não seus participantes diretos. Chamaria de "indústria do entretenimento" apenas uma forma mais sutil e bem elaborada de morrer, onde o que se está em jogo é a imolação da própria capacidade de respirar por si e para si próprio.

É o mesmo que vender a alma para o diabo, e o corpo também.


Todo vício é uma fonte inesgotável de lucro e miséria: a Tv se tornou, mediante o patrocínio das grandes marcas de cigarro, cerveja e pornografia, uma fonte rentável de promoção à morte dos trabalhadores.


Vivo cercado de cegos! Todavia não tenho certeza de ser um daqueles homens raros que ainda não se recusam a ver seus contemporâneos como eles são por dentro - ainda não adquiri estômago suficiente para abrir víceras de uma multidão de mortos.


Somos embrutecidos pela indução ao status, ao prazer e ao poder de vingança, descendo assim, chegaremos rápido ao inferno.


"Oh Senhor, dai-me forças para subir ao céu"


Estou cançado de ser iludido pelo encantamento de fama e da hipócrita maneira de divertir as massas. Estou decidido a viver como uma força ácida de resistência. É necessário portanto, imunidade contra o vírus da impulsividade, da música que envolve ouvidos doces.
Convido a escutar o silêncio, o protesto emudecido pelos donos desse decadente mundo - agora as crianças choram, e não será tão fácil deixar de fazê-las parar de chorar.

domingo, 1 de junho de 2008

Textos Antigos - Ser Profeta

O caminhar solitário é a condição do profeta, assim como de todo aquele que se devota inteiramente ao reino de Deus. Sua solidão, embora lhe seja um estigma de sua busca por santidade, de sua mais profunda dor de viver paralelamente entre dois mundos, pelas quais ele se vê esmagado, contorcido e ao mesmo tempo estendido, dilacerado, mundos que se opõe entre si, não se esvanece em pleno comodismo egoísta, as multidões o procuram independente do motivo, e para a multidão o profeta se devota.

O profeta, mesmo na mais absoluta solidão, se doa à multidão pedinte, as vezes até ingrata. A multidão somente pede e cabe ao profeta se doar a ela, todavia, sempre irá continuar pua massa de homens sem nome e carentes, pura figura abstrata. A doação exercida pelo profeta o esvazia de si mesmo, através de seus esforços em favor da multidão, até que por fim, não exista mais nada nele o que doar, ele se esvazia por completo, até que dele reste absolutamente o nada. Assim o profeta morre, morre como nada, sem outrora Deus lhe tinha dado como homem acima da multidão, o profeta morre sem nome, para que a multidão anônima, perdesse pelo seu nome o nome de multidão.

Entretanto, não é pelo seu nome que o profeta profetiza, na sua voz ecoa um nome que não é o seu: Assim diz o Senhor..., é a primeira de suas premissas, tal como que doando-o a multidão anônima, para que por esse nome, a massa pudesse abandonar a sua condição de anonimato espiritual e social, para que, ganhando identidade, abandonasse a sua condição de mendicância espiritual e social e se tornasse livre. O nome do Senhor se ocultou na boca dos profetas, e na boca dos profetas ficou, sendo assim, impedida ficou a multidão de receber o nome do Senhor, recebendo por isso, o nome do profeta que eles tanto veneram depois de os terem assassinado, roubando-lhe até o nome. O profeta passou a ser objeto de veneração e o nome do Senhor de esquecimento. Todavia, Deus se encarnou, e como carne, uniu Deus e homem, mensagem e mensageiro, anunciou seu nome e o doou aos homens, se doou inteiramente e morreu na cruz por isso, pois em seu corpo não havia mais nada o que doar a não ser o seu próprio corpo e sangue.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

O Deus de Carne

Sinto-me profundamente inspirado!
Inusitadamente Deus fez cair um raio em minha cabeça.
Empenho todo o meu entusiasmo, lirismo e devoção, na convicção de estar escrevendo um livrinho cujo maior dos méritos consiste em erguer a voz, mesmo que rouca e fraca, em manifestação de louvor ao amor de Deus por nós.
O mesmo Deus que permitiu que uma menina de cinco anos fosse covardemente jogada por um frio assassino da janela do sexto andar de um apartamento?
- Sim, o mesmo Deus!
Nunca vi criança alguma se preocupar com o medo da morte, sua inocência lhe impulsiona intensamente à vida!, todavia, quanto a nós adultos, morrer, limite de nossa decadência temporal, significa o mais terrível dos acontecimentos, a eminência de nossa extinção, por isso, um ato tão brutal nos comove à revolta e a justiça com as próprias mãos. A morte nos preocupa porque estamos todos devendo algo à Deus e ao mundo, porque o salário do pecado é a morte (Rm. 6.23). A criança à eternidade nada deve, não há portanto o que nela temer.
O mesmo Deus que permitiu a um terremoto dizimar a vida de mais de nove mil chineses?
Sim, o mesmo Deus!
O que morreu para a república popular da China: seres humanos ou trabalhadores?
Se para eles fossem seres humanos, chorariam pouco seus mortos, mas como se tratavam de mão de obra barata e estudantes, três dias de luto oficial ainda não seriam suficientes. Nós ocidentais não estamos tão distantes disso.
Diante do caos, exaurido todas as possibilidades de esperança e alternativas possíveis de reconstrução daquilo que se perdeu, as nações se voltam para nós e perguntam: ... Onde está o seu Deus? (Sl. 115.2) . Nessas horas todos os outros deuses ficam mudos exigindo de nós uma resposta.
Muitos, pela ingenuidade herdada de seus pais exclamam:

Mas o nosso Deus está nos céus: faz tudo o que lhe apraz. (Sl. 115.3)

Jesus Disse: Eu sou o pão vivo que desce do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre;e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo (...). Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. (Jo. 6.51;56

Deus desceu do céu: ... o verbo se fez carne e habitou entre nós... (Jo. 1.14)

Deus se tornou homem para ensinar o homem a ser homem:

- Nós o invocamos como ideal de humanidade.

Deus se tornou homem para ensinar o homem, a partir do integralmente humano, como chegar a Deus:
- Nós o invocamos por ele ser Deus:
"... e no que é verdadeiro estamos, isto é, em seu filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna." (1 Jo. 5.20)