segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Uma Carta por Benjamin

Deixei explícito entre alguns de meus escritos que não gosto de ler ficção. Interessa-me obsessivamente a análise da realidade fria, sem rodeios. Acabei por escrever uma, e descobrindo que as vezes, escrevendo uma mentira digo mais verdades do que realmente gostaria de dizer. Tenho a mesma impressão com o livro Uma Carta Por Benjamin de Jana Lauxen, publicado pela editora multifoco.

Apático, anêmico, anônimo. Imerso na multidão e escondido nela. Vegetando, não vivendo, enterrado no mundo: cemitério de almas, mais do que de corpos. Acomodado, indiferente as existências que transitam ao seu redor, como também a sua própria. Imediatista, materialista, sem vida e sem futuro. Algumas almas morrem antes de seus corpos e Benjamin era uma delas. Mas alguém o matou, e foram eles, os maus amigos e uma infinidade de amores perdidos. De tanto perder amores Benjamin perdeu o coração. Nada mais lhe impressionava, nada mais lhe fazia brilhar os olhos.

De repente tudo mudou: algumas cartas enviadas por uma desconhecida chamada Madalena lhe convenceram a sair da comodidade de sua caverna e olhar o mundo, as pessoas, as coisas, sua nação. A politicagem no mundo das conspirações criminosas ( ou será que é o contrário?). Benjamin está indo longe demais... Caminhando no escuro não sabe mais onde os seus passos o levam, não sabe onde Madalena o está levando, contudo, continua caminhando.

Uma Carta Por Benjamin consiste numa estória sobre subjetividades anônimas: Benjamin e Madalena. Benjamin é desconhecido do mundo, dos amigos, da família, dos amores da vida. Madalena é desconhecida por Benjamin. Essas subjetividades quando se encontram por meio de cartas, mudam a vida um do outro. Mudam o destino de um país. Uma Carta Por Benjamin fala do anonimato presente em certas formas de heroísmo diário que ninguém vê, embora corriqueiramente passem diante dos nossos olhos, assim como, da importância que seus autores, sem nome (e dentre eles estão cada um de nós) possuem para o estabelecimento do futuro. O mundo está cheio de heróis. Eles não voam, não conseguem parar balas de aço e na possuem visão de raio x, são simples seres humanos. É exatamente isso que nos surpreende: como seres tão frágeis podem ao mesmo tempo ser tão fortes? E o que Jana Lauxen nos propõe a reflexão na vida do pacato Benjamin.



Diogo Santana.

Escritor e teólogo, autor dos livros Biografia Anônima (Editora Corifeu – 2009), O Deus de Carne: Uma Introdução a Cristologia (Editora Virtualbooks – 2009) e Fé e Anarquia Cristã (Editora Corifeu – 2007).

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