domingo, 1 de junho de 2008

Textos Antigos - Ser Profeta

O caminhar solitário é a condição do profeta, assim como de todo aquele que se devota inteiramente ao reino de Deus. Sua solidão, embora lhe seja um estigma de sua busca por santidade, de sua mais profunda dor de viver paralelamente entre dois mundos, pelas quais ele se vê esmagado, contorcido e ao mesmo tempo estendido, dilacerado, mundos que se opõe entre si, não se esvanece em pleno comodismo egoísta, as multidões o procuram independente do motivo, e para a multidão o profeta se devota.

O profeta, mesmo na mais absoluta solidão, se doa à multidão pedinte, as vezes até ingrata. A multidão somente pede e cabe ao profeta se doar a ela, todavia, sempre irá continuar pua massa de homens sem nome e carentes, pura figura abstrata. A doação exercida pelo profeta o esvazia de si mesmo, através de seus esforços em favor da multidão, até que por fim, não exista mais nada nele o que doar, ele se esvazia por completo, até que dele reste absolutamente o nada. Assim o profeta morre, morre como nada, sem outrora Deus lhe tinha dado como homem acima da multidão, o profeta morre sem nome, para que a multidão anônima, perdesse pelo seu nome o nome de multidão.

Entretanto, não é pelo seu nome que o profeta profetiza, na sua voz ecoa um nome que não é o seu: Assim diz o Senhor..., é a primeira de suas premissas, tal como que doando-o a multidão anônima, para que por esse nome, a massa pudesse abandonar a sua condição de anonimato espiritual e social, para que, ganhando identidade, abandonasse a sua condição de mendicância espiritual e social e se tornasse livre. O nome do Senhor se ocultou na boca dos profetas, e na boca dos profetas ficou, sendo assim, impedida ficou a multidão de receber o nome do Senhor, recebendo por isso, o nome do profeta que eles tanto veneram depois de os terem assassinado, roubando-lhe até o nome. O profeta passou a ser objeto de veneração e o nome do Senhor de esquecimento. Todavia, Deus se encarnou, e como carne, uniu Deus e homem, mensagem e mensageiro, anunciou seu nome e o doou aos homens, se doou inteiramente e morreu na cruz por isso, pois em seu corpo não havia mais nada o que doar a não ser o seu próprio corpo e sangue.

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